quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quando qualidade não quer dizer qualidade (mas ainda assim pode ser útil)

Esse post é para homenagear esses tempos brilhantes em que nos encontramos. Vemos surgir em canais como o Youtube uma nova anomalia tecnológica: quando a qualidade não quer dizer necessariamente qualidade. Me explico: agora, mais e mais vezes vemos aparecer por lá vídeos toscos, mal gravados, fora de foco, câmera tremida, áudio ruidoso e mal captado, só que em... HD! Wow! Com as câmeras de alta definições ficando mais baratas e relativamente mais acessíveis, agora temos imagens em HD da festa de três anos do sobrinho de um, de um show qualquer que a pessoa foi, do zoológico ou da partida de futebol. Precisamos nos acostumar com isso. Vídeos toscos mas com uma puta imagem.

Um exemplo é o vídeo abaixo, de uma pessoa qualquer do público em um show da banda americana Superchunk. Como essa foi por muitos anos uma das minhas músicas favoritas -se chama Cast Iron- coloco aqui (ah, e logicamente o áudio está bem meia-boca). Serve como ilustração de qualquer modo. O cara que postou já até avisa na descrição: "Sorry it's so out of focus!!", mas é HD, olha só!)



O lado positivo disso é que essas mesmas câmeras podem ajudar em alguns momentos e acabam mudando o que conhecemos por jornalismo, tanto na Internet como na própria televisão. O G1, portal da Globo, usou jornalisticamente muitas imagens feitas pelo público no momento dos alagamentos do Rio de Janeiro e Niterói. Acabaram ilustrando o que a TV, com toda a sua estrutura, não conseguia ilustrar. Muitos desses vídeos foram publicados no portal e alguns inclusive foram usados nos telejornais. Um responsável do portal, em entrevista pro Globonews, comentava que eles se surpreenderam com a quantidade de coisa que chegou naquele momento, de vídeos feitos pelas pessoas nas suas próprias casas, e que em geral estes tinham uma qualidade boa, podendo ser usados tranquilamente em qualquer meio. A câmera continua tremida, o áudio continua tosco. Mas aqui temos algo de conteúdo expressivo. Nada que, aí sim, uma edição profissional, selecionando os principais trechos e compondo na matéria com as próprias imagens, não consiga resolver. Abaixo um desses vídeos, feito por uma moradora de Niterói, que até coloca uma trilha, faz um wipe para cortar de um take para o outro e coloca em GC as informações do dia e local. Nesse caso, vemos que não só as imagens em HD como a edição já estão ao alcance de todos. Isso também tende a ser positivo, imagino.


Dando a cara a tapa

Falar é fácil, fazer é difícil? Aí abaixo o meu Reel com um punhado de coisas que fiz para emissoras/produtoras diferentes ao longo dos anos.

Ricardo Kenski - Reel (Edição/Animação) from Ricardo Kenski on Vimeo.

Para ver alguns dos trabalhos na íntegra, aqui os links dos que estão publicadas na net (com a descrição do que fiz neles):
Edição e arte para o videoclip "Rodeados y Tan Solos".
Edição e arte para o videoclip "Sol Sin Luz".
Composição de alguns takes do videoclip "Lately".
Animação para 3 vídeos da Eletrobrás (pelo Estúdio Mol). Aqui o primeiro, o segundo e o terceiro.
Edição para o vídeo de lançamento do Youtube em português.

Que não está no Reel, mas gosto muito:
Edição e arte para o vídeo "Copans" - TCC do Galileo Giglio.
Edição para o curta-metragem "Exercício de Fotografia". Dir: Paula Kim. (Neste link está na verdade só o trailer).

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Dança e montagem (em um vídeo e um longa-metragem)

Como mostrar uma apresentação de dança/expressão corporal em um vídeo interessante, que ao mesmo tempo em que ilustra de forma clara os movimentos, utiliza bem os recursos da linguagem audiovisual?

O vídeo Atelic dirigido pelo tal DuckEye é uma ótima resposta a esse desafio. Idéia simples, boa coreografia da equipe de dança (a tal Rambert Dance Company) e uma ótima composição em montagem de toda a apresentação, que joga com os espaços criados pela grade em primeiro plano para criar uma apresentação completamente nova. Em um primeiro momento vemos muitos corpos e movimentos se misturarem; em um segundo, vemos dois ou mais movimentos de uma mesma pessoa em quadro. A montagem serve para ilustrar todas essas possibilidades e criar algo bastante inovador. Não só compõe o espetáculo, como dá ritmo (e as transições de uma ação para outra através do jogo com os quadrados são geniais) e cria esse visual diferente, que usa muito bem o potencial dos dois meios.

Atelic from duckeyejey on Vimeo.

O vídeo me lembra o ótimo exercício feito por Lars Von Trier e Jørgen Leth no filme Cinco condições (2003). Nesse documentário que mostra a produção de cinco adaptações de um curta famoso de Jørgen, feitos sob condições impostas por Lars, vemos ótimos usos da montagem em curta-metragens diferentes, que se apóiam na animação, na ficção e no documentário. No filme, não só o resultado dessas provocações é muito interessante, como o diálogo entre esses dois diretores e o caminho que eles percorrem para chegar à esses resultados também são. O vídeo a seguir mostra a primeira dessas adaptações, rodada em Cuba. Uma das condições de Lars obrigava o outro diretor, famoso por usar planos longos, a cortar a cada 12 quadros. A manipulação da ação que o diretor faz em montagem, compondo uma dança fragmentada é também bastante interessante.


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quando o making of é melhor que o curta-metragem

Com vocês, o curta-metragem canadense Nuit Blanche do diretor Arev Manoukian, da interessante produtora Spy Films. Esta produtora é conhecida por um bom e diferenciado uso do 3D nos diferentes curta-metragens que faz, a maioria deles de ficção-científica. Um dos diretores inclusive, é o sul-africano Neill Blomkamp, famoso pela direção do filme Distrito 9 (que falamos aqui).


Em Nuit Blanche, vemos como transformar quatro pessoas gravadas em um fundo Chroma em um curta-metragem interessante, com visual extremamente trabalhado (mais um exmplo da tal "mágica" do Chroma Key, que falávamos aqui). Confiram abaixo o curta-metragem na íntegra.

Nuit Blanche from Spy Films on Vimeo.


E agora vejam como eles criaram esse visual interessante, mistura de filme de época em preto-e-branco com batidas de carro estilo Matrix e efeitos 3D próprios da linguagem publicitária (que lembra para mim o trabalho do diretor russo Timur Bekmambetov) apenas combinando e manipulando diferentes imagens que já existiam, durante o processo da pós-produção. É um desses casos que o making of acaba sendo tão ou mais bacana que o próprio curta-metragem. No melhor estilo "Mister M", muitas vezes é mais legal saber o que está por trás do truque. Divirtam-se.

Making Of Nuit Blanche from Spy Films on Vimeo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Conheça Jonathan Hodgson! (ou: como misturar perfeitamente animação e vídeo)

Um cara que se relaciona bastante com essas idéias do post anterior e que aplica isso para a publicidade e para ótimos curtas-metragens que faz desde 1981 é o inglês Jonathan Hodgson. Figura presente em muitos festivais de animação (o Anima Mundi já fez até uma retrospectiva sobre o trabalho dele) e compilações de animação inglesa (o ótimo livro Animation now! da Taschen também o cita), ele sabe como poucos misturar vídeo e animação para chegar a ótimos resultados. E não só o visual é bem interessante como ele acaba gerando sentido para essa interação entre as duas coisas, representando de forma bastante livre aspectos da imaginação, do pensamento, do subconsciente e da linguagem dos sonhos.

O curta Feeling My Way, de 1997, é para mim o melhor exemplo dessa linguagem (e certamente um dos meus curtas prediletos). Aqui ele tenta ilustrar o que passa pela cabeça de uma pessoa (consciente ou inconscientemente) durante um rápido percurso a pé, da própria casa para a casa de um amigo. Como nos exemplos anteriores, o vídeo que foi gravado não tem nenhuma graça; é o simples caminhar de alguém. Mas a animação gera um resultado bem interessante, agregando significados diferentes para as coisas do dia-a-dia. Vejam abaixo (é pena que a qualidade do vídeo não está muito boa).



Outro curta dele que gosto muito é o The Man With The Beautiful Eyes, que ele fez logo depois, em 1999, e dessa vez, inteiramente em animação. Baseado num poema do Bukowski, de 1992, ele conseguiu criar um ritmo bem interessante em uma narrativa que mistura imagens e texto e que se relaciona com o universo infantil.



Para conhecer mais sobre o Jonathan Hodgson e ver alguns curtas mais recentes, onde ele segue experimentando nessa mistura entre vídeo e animação com resultados bem interessantes, entre na página dele. Os curtas estão todos lá, na íntegra, junto com uns tantos desenhos, umas animações para publicidade e até o showreel do cara. Um ótimo passatempo, eu diria.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Montagem a posteriori com o videoclip do Kid Cuti e o promo da Diesel

Alguns estudos acadêmicos de cinema falam da tal montagem a posteriori. O conceito se refere a chegar no processo de montagem com um material que dá margem à diferentes possibilidades de manipulação; mas que você ainda não conhece muito bem quais são. A montagem feita dessa maneira acaba se tornando mais visível no produto final e é em geral usada de forma mais criativa, até porque utiliza outros elementos visuais, como animações ou composições de imagem para se chegar nos resultados pretendidos.

Um bom exemplo é o videoclip Day'n'nite do rapper Kid Cuti. Se você analizar, não há muita graça no material que foi gravado: é o próprio andando numa rua, indo a uma loja de roupas ou a uma pizzaria. Mas o uso de animações no processo de edição cria situações bem interessantes: modifica todo o quadro, gera novos personagens e dá novos sentidos para algumas ações - como transformar esses pizzaiolos aí embaixo em DJs da festa.



O videoclip lembra bastante o visual do ótimo promo de uma festa da Diesel, intitulado XXX. A diferença aqui é que todo o material usado como base já existia; a graça está em gerar este outro sentido e modificar um material existente -no caso, filmes pornôs- (seguindo a lógica de que às vezes é mais legal alterar o já existente do que criar algo novo, do zero, como falamos aqui).


quarta-feira, 12 de maio de 2010

A televisão é uma droga!

A televisão é uma droga! É o que tenta provar a americana Beth Fulton em seu rápido vídeo Television is a drug, segundo ela inspirado no poema Television de um tal Todd Alcott. Consegue usar bem a montagem para ilustrar um zapping televisivo bastante esquisofrênico, condizente afinal de contas com a lógica televisiva mundial, de tantos anúncios 1406, Datenas e Joãos Klébers. Mais legal ainda a tradução pro português, que gera um sentido a mais no "é uma droga" (ambos verdadeiros, inclusive).

Television is a drug. from Beth Fulton on Vimeo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dica: M(C)ontadores de histórias - Sesc Vila Mariana (SP)

Pros interessados em montagem (e cinema em geral) fica aqui a dica do projeto "M(C)ontadores de histórias", organizado pelo Sesc Vila Mariana de São Paulo que acontece neste mês. Além de uma exposição, acontecerão oficinas, encontros com montadores e diretores de cinema, e exibições de alguns filmes com "montagens marcantes". No flyer abaixo, confira toda a programação do evento (clique nele para ampliar).


Para saber mais, clique aqui para ver uma matéria do site da Revista Época. E aqui para a página do Sesc.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Chroma Key e videoclips - como não fazer

Você viu nos últimos posts exemplos de como usar o Chroma Key ou ter sacadas geniais para fazer bons videoclips, certo? Pois agora vos apresento um exemplo "curioso" de como NÃO fazer videoclips usando o Chroma (ou então: de como fazer o videoclip mais tosco e cheio de clichês possíveis, na esperança de que ele vire "cult" de alguma forma). Música de gosto discutível, alguns defeitos especiais, animais dançantes e um par de peitos (pergunto: não seria mais ou menos essa a fórmula de boa parte dos nossos programas de entretenimento dominical também?).

Com vocês, Джимми Джимми и джипи.



ps. Repararam na equipe de produção segurando o ventilador em quadro, bem recortado no Chroma?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Uma banda + um estúdio + uma boa sacada = um bom videoclip

Uma coisa que sempre estranho são esses videoclips que querem ser curta-metragens. Talvez porque Gondry, Spike Jonze e companhia tenham chegado aos longas, agora todo estudante de cinema acha que o caminho para se chegar em Hollywood passa obrigatoriamente pelos clips. E então fazem um videoclip cheio de atores e situações dramáticas, a banda cantando no meio da ação, com figurino e maquiagem pensados como no cinema. Nada mais longe da realidade da banda, muitas vezes, e nada mais cansativo para se ver no Youtube, que é onde todo mundo vê videoclips hoje em dia (já que a MTV cada vez mais deixa o M de lado para ser só TV mesmo).

Assim como falávamos que os trailers (e chamadas televisivas em geral) são antes de tudo boas sacadas, acredito que o mesmo acontece com os videoclips. E boa parte dessas idéias bacanas tem a ver com montagem, truques de edição e composição de imagens (como no caso do próprio Gondry, por exemplo). Aí abaixo alguns exemplos de videoclips simples, gravados em estúdio, sem ser uma mega-produção, com excelentes sacadas (alguns deles já são até clássicos em videoclips!).

Primeiro a canadense Feist, com o seu maior hit 1234. Um grande estúdio, muitos dançarinos, a própria cantora, um plano-sequência com movimentos de câmera bem bacanas e um truque simples de máscaras, com excelente planejamento de toda a ação.



Segundo, os americanos Vampire Weekend, com a música A-Punk, do primeiro disco. Também um plano-sequência, dessa vez acelerado, com algumas situações no meio dele. Simples, chamativo e bem interessante.



Terceiro, os australianos Architecture in Helsinki com a sua Hold Music. Aqui vemos poucas e simples situações, manipuladas e bem ritmadas no processo de edição.



E por último, um que não tem nada de especial quanto à edição mas que também é bem bacana, tem a ver com esses outros por também ter sido gravado em um grande estúdio e tem um final bem interessante (aqui sim uma boa idéia). Outro dos Hot Chip, dessa vez para a música Boy From School. Clique aqui para vê-lo no Youtube.