terça-feira, 28 de setembro de 2010

RIP Sally Menke


Morreu hoje, aos 56 anos, e de forma trágica, uma das maiores montadoras do cinema de todos os tempos, a Sally Menke. Ficou famosa por montar todos os filmes do Tarantino, dos quais recebeu duas indicações ao Oscar (por Pulp Fiction e Bastardos Inglórios). O meu favorito dela é certamente Death Proof, uma verdadeira aula de montagem. Ali vemos o uso de muitos filtros diferentes, efeitos, cortes errados propositalmente, um ritmo excelente nas diferentes partes, ótimas cenas de ação, tudo orquestrado de forma magistral - e feito em quatro semanas e meia, como nos diz Tarantino em um dos vídeos abaixo. É das que consegue usar a montagem para conduzir perfeitamente a história (de forma invisível) e também, como neste caso, potencializá-las através dos recursos disponíveis, assumindo sentido narrativo (aqui visível). A montagem vira neste caso um personagem a mais do filme e é responsável pelo visual genialmente diferente que vemos ali. Boa parte do sucesso e da graça dos filmes do Tarantino se deve a ela. Tanto que é considerada o braço direito do diretor. E pelos exemplos abaixo, em vídeo, vemos que mesmo estando numa salinha escura a kms de distância do set, ela era lembrada por todos os membros da equipe, em diferentes situações. Os "Hi Sallys", brincadeira que Tarantino fazia com a montadora durante a filmagem, é divertidíssimo e serve para mostrar a sua importância.



Vale também ler o texto escrito por ela para o portal do Guardian (clique aqui), em que comenta a sua trajetória, o trabalho com Tarantino e a admiração pelo trabalho de outra montadora notável, Thelma Schoonmaker, que trabalha desde sempre com Scorsese e que, com 14 anos a mais que ela, continua na ativa em ótimo processo criativo.

R.I.P. Sally Menke.
Bye Sally.

sábado, 25 de setembro de 2010

Mais Ok Go (ou: depois desse eu prometo que paro)

Passou já uma semana do show dos Ok Go. Minha opinião não mudou muita coisa não. Mas para fazer justiça à banda, faltou falar de dois outros videoclips, realmente relevantes para o que pretendo com este blog. Os videoclips são os das músicas WTF e End Love.


Esses caras adoram fazer um videoclip com um bom plano-sequência e esses dois não fogem à regra. A diferença aqui é que eles tem umas sacadas bem bacanas de edição. No primeiro, o WTF, eles gravam um plano-sequência em fundo verde para recorte em chroma (sem nenhuma novidade até aqui), mas colocam um efeito que cria todo o visual do clipe (e faz ele ficar interessante). Até aí nada de mais também. Bacana mesmo é ver da onde surgiu a idéia e como foi feito no video de making of feito por eles, muito bem editado, diga-se de passagem (a linguagem lembra a do programa Pânico na TV). Não é sempre que podemos ver videoclips com comentários do diretor, como já estamos acostumados nos filmes.

O segundo é o End Love e é um dos melhores usos em videoclip que conheço para os time lapses (deixando o Gondry de lado, obviamente), que agora, com as novas câmeras de foto da Canon gravando também em Full Hd (5D, 7D e a Rebel T2i) começam a pipocar por todos os lados na Internet. Mais que isso, eles sabem jogar neste videoclip perfeitamente com as velocidades. Algumas horas acelerando o tempo, algumas horas usando um super slow, algumas tantas horas indo quadro-a-quadro estilo stop motion. Nenhum efeito ultra mirabolante, mas um conjunto bem bacana, com um ritmo bem interessante. (Em outro videoclip, a versão papel-de-parede da música Do What You Want, eles também jogaram bastante com o tempo, desta vez em planos separados, cheios de corte).

Tão aí os dois vídeos abaixo. Divirtam-se.





Conclusão: ao contrário das demais bandas, esses caras deveriam fazer menos shows. E mais videoclips. (E bom saber que tem gente por aí que sabe que um videoclip não é um curta-metragem e nem uma peça publicitária).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Ok Go (e um videoclip bobo depois de um show sem graça).

O Ok Go lançou hoje mais um videoclip. E como sempre, vai espalhar pela Internet que nem vírus no ar-condicionado da empresa. O novo clipe é feito de novo em um só plano-sequência, dessa vez com alguns poucos objetos e cachorros bem treinados. Se as pessoas que esperavam coisas mais mirabolantes (como as de alguns videoclips anteriores, como o do Pitagora Suitchi -que falamos aqui), ou algo tão divertido (como o primeiro, das esteiras de academia), vão virar a cara para esse, ele será aceito amplamente por todas essas pessoas (bobas) que babam em vídeos de cachorros (que tem na Internet aos montes). Mais uma vez eles sabem transformar apelos de vídeos toscos em videoclips baratos com boas sacadas. Isso é um dos maiores méritos da banda. Confira aí abaixo o resultado.


Sou um dos que se diverte vendo esses videoclips, devo confessar (mesmo sendo assim meio sem graça, como esse último). O problema na verdade começa quando começa a apresentação deles ao vivo (como presenciei na última sexta-feira no Estúdio Emme, em São Paulo). No palco, sem esteiras elétricas, cachorros, planos-sequências mirabolantes, figurantes para todos os lados e trucagens interessantes, você tem que prestar atenção na banda e obviamente, na música. E isso não se sustenta por muito tempo. Eles até tentam jogar papel picado para ver se melhora o show (e fazem isso o tempo inteiro); ou tentam tocar uma música só com sinos (certamente um dos pontos altos da apresentação); vestem ternos com luzinhas no bis (como a da foto abaixo); ou vão para o meio da galera, só com voz e violão (hora de pegar mais uma cerveja). Mas é pouco; e fica extremamente cansativo. Fica no fim que nem esse último clipe aí acima: bobo e algo sem graça, apoiado mais no "como eles são fofos", idéia que o vocalista certamente acredita - e prega durante o show-, do que "até que a música é boa", coisa que nem uns tantos hits no currículo ajudam a sustentar muito.


Conclusão: ter milhões de page views ou ser conhecido por muitos não faz de você algo realmente interessante ou relevante. Isso se aplica também de forma geral ao twitter e à esse universo dos blogs, que certamente são os maiores apoiadores da banda.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Porra, Superchunk!

Pô, o Superchunk foi desde sempre uma das minhas bandas prediletas. Eles certamente estarão em qualquer lista das grandes bandas da ceninha indie americana dos anos 90, juntos aí com o Sonic Youth, o Yo La Tengo (que são certamente melhores que eles e logo mais tocam por aqui) e o Dinosaur Jr. (que desde que falou que ia tocar no Brasil, fez todo paulistano virar o primeiro-fã-número-1-da-banda-mais-legal-de-todos-os-tempos, ou algo assim). E eles continuam aí, com as caras de criança de sempre. Até lançaram este álbum abaixo, esta semana, depois de nove anos sem lançar nada...


Mas, porra, vem ano, vai ano, eles continuam fazendo esses clips bizonhos, como esse aí abaixo. É para parecer low profile, feito em casa, "entre amigos"; dizem eles que aí até aparece o cara dos Mountain Goats e uns outros tantos. Mas caceta, precisava ser tão tosco e sem graça? Eles são donos da Merge, lançaram Arcade Fire e tudo isso... (além dos She & him, Shout Out Louds, o próprio Dinosaur Jr. e o Lou Barlow, Buzzcocks, Caribou, Lambchop e uns tantos mais...)

Sei lá, fica aqui o meu protesto.



Pronto, passou! Mal aí.

domingo, 12 de setembro de 2010

Youtube interativo (ou: Iggy Pop e Tipp-ex vs. Burger King)

A idéia é velha. Mas envolve um bocado de programação. E por isso é bastante curioso agora vermos essas coisas no Youtube. O caso é a nova publicidade (que já se tornou viral) da empresa alemã Tipp-ex para um corretivo estilo Liquid Paper. Você vê um video de 30 segundos e depois participa de uma experiência "interativa", em que você seleciona ações possíveis envolvendo um caçador e um urso.

Aos poucos vemos o Youtube, que era apenas uma página web para ver vídeos, passar a ser o principal meio para qualquer ação envolvendo vídeos, e nesse ponto, fica muito difícil saber agora até onde isso pode chegar. Já tínhamos visto vídeos interativos, em maior ou menor grau, como o clip do Iggy Pop (abaixo), que gosto muito. E ultimamente, algumas experiências, como o show do Madison Square Garden do Arcade Fire (que falei no post anterior), atrairam ainda mais atenção para a página. Neste caso, conseguiu juntar vídeo em alta definição com outras mídias sociais, fazendo posts do twitter e do facebook quase virarem uma sala de bate-papo.



O que temos agora é uma versão para Youtube (e com ursos) do que foi nos anos 2001 uma campanha da Burger King, a Subservient Chicken (ou Galinha Subserviente), em que já podíamos, através de vídeos, dar comandos para uma "galinha". (clique aqui para recordar e se divertir também).


No fim, demorou quase dez anos para vermos a mesma coisa dentro do Youtube, mas por outro lado, se pensarmos que a página é voltada para o público em geral, parece um passo interessante no sentido de que, qualquer dia, você vai poder fazer algo assim tão facilmente quanto subir um vídeo depois de gravá-lo no seu celular (vai saber...). Ao menos é essa a idéia que o Youtube pretende passar, associando boa publicidade ao formato deles para todos os demais vídeos. Bom, clique no vídeo abaixo e comece a interação (depois, é só dar os comandos mais variados que surgirem na sua cabeça - em inglês, é claro). Aproveite!



Uma observação final: achei interessante também a frase do tal Bob Thacker, da Buzzman, empresa francesa responsável por esta ação de marketing:
«The secret is respecting the consumer. You are interrupting their life.
All advertising is unwanted, so if you're going to crash the party, bring some champagne with you.»

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

The Wilderness Downtown. O novo projeto visual dos Arcade Fire.

Animal o projeto interativo dos Arcade Fire para divulgar a bela We Used To Wait, do Suburbs, o novo álbum deles. Servindo também para promover o Google Chrome, ele usa um dado fornecido pelo usuário (um endereço qualquer) para montar um videoclip com muitas janelas de formatos diferentes que conversam entre si em formato pop-up, misturando para isso dados do Google Street View, animações, vídeos com texturas variadas, etc.


Não é a primeira vez que eles fazem isso. Para promover a Black Mirror do álbum anterior (o Neon Bible, o pior deles) eles fizeram uma página onde você podia escolher quais canais de áudio queria escutar (entre seis opções) e podia ver o clip com fundo branco ou com fundo preto (selecionando com a barra de espaço). Uma experiência já bastante interessante e melhor que esse em relação ao áudio. Se você não conhece, clique aqui.

Mas nesse eles foram bem além, de uma forma geral, e de novo conseguiram usar a internet (e parece que foram um dos primeiros a usar o standard HTML5) para fazer algo que ninguém ainda havia visto e que propaga em redes sociais e blogs (como esse em que você se encontra) em poucos segundos.

Clique aqui para participar também da experiência. E faça como manda o protocolo: veja no Google Chrome, feche outras janelas do seu browser, aumente o som. E antes de tudo uma ressalva: com endereços brasileiros, por não estar tudo tão bem mapeado, a experiência não é assim tão bacana. Podem aparecer umas tantas janelas pretas no meio do processo.


Aí acima um quadro do final da música da versão que eu fiz. Misturar boa edição com tecnologia e boa música é algo que realmente deve ser preservado. Que venham outros (e não pela Lady Gaga, por favor! Até porque nesse caso não seria muito "boa música").

Vale lembrar que eles acabaram de fazer algo único no canal do Youtube; um show no Madison Square Garden (ou como eu gosto de chamar, Jardim Quadrado do Filho Louco), em show transmitido ao vivo e dirigido por ninguém menos que Terry Gilliam (que é realmente bom, mas que aqui não sei se melhora muita coisa ou consegue mostrar algum estilo específico além de cortar muitas câmeras em um show). Clique aqui para ver a apresentação (de novo, é claro).