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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Corta-e-cola recomenda: Enter the Void (2009). Dir.: Gaspar Noé

Gaspar Noé é um diretor subestimado. Talvez por causa da famosa e longuíssima cena de estupro do filme Irreversível (protagonizada pela Monica Bellucci), o diretor passou a ser mal visto pelo público e por uma parte da crítica, como se quisesse apenas chocar sem ter uma mensagem para passar; e como se usasse os truques de edição por puro espetáculo, sem necessidade. Por causa disso, seu filme seguinte, Enter the Void, de 2009, obra (na minha opinião) a estar entre as maiores inovações e provocações do Cinema, nunca chegou às salas brasileiras e, desconfio, nem às locadoras ou lojas de DVD.


Gaspar Noé é o contrário de tudo isso e Enter the Void é um filme para ser visto e revisto, com bom áudio e de preferência em Blu-Ray. Ambientado no Japão e tendo o uso de drogas e a morte como temas principais, o filme traz um uso bastante diferente de movimentos de câmera (que o diretor já tinha provado em curtas e longas anteriores, incluindo o próprio Irreversível) mas, desta vez, esses adquirem poderosos efeitos narrativos. E a montagem, outra das muitas qualidades do diretor, joga brilhantemente com esses planos, criando momentos bem diferentes ao longo do filme.



O projeto nasceu, segundo o diretor, após ele ter visto drogado o filme A Dama do Lago, de 1947. Dirigido por Robert Montgomery, este é outra dessas experiências interessantes do cinema, já que é todo feito usando planos subjetivos (nos dois filmes conhecemos o personagem principal apenas através do espelho, feito com um plano trucado).



Os dois filmes (e o recurso) dialogam com o clipe de Smack My Bitch Up dos Prodigy, dirigido pelo também amigo da boa edição Jonas Akerlund, que tem em seu portfolio o filme com mais cortes da história (mais de 5 mil, segundo o Imdb): Spun - Sem Limites (do qual certamente falaremos em outra ocasião). Abaixo o clipe na versão sem sensura (mais coerente com o filme que é o assunto deste post).



Por último, se estamos citando referências e filmes relacionados, diria que Enter the Void é, provavelmente, junto com o Speed Racer dos irmãos Wachowski, o filme mais colorido da história (e daí o porquê de eu ter dito que funciona melhor em Blu-Ray). Nenhum outro além desses conseguiu capturar com tanta intensidade esse mundo ultra-tecnológico (do qual o Japão faz parte), com overdose de movimentos e luzes neon, já apontando para um mundo futurista bem bizarro (Blade Runner também recria a mesma coisa de forma brilhante, mas com tons bem mais sutis).



Ps. "Corta-e-cola recomenda" é um espaço que faremos, daqui por diante, com esses filmes que nos inspiram e que trazem inovações ou discussões que achamos relevantes. Se você tem alguma sugestão ou lembra também de algum filme que vá no mesmo sentido, por favor, mande para nós nos comentários abaixo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Videoclipes sem música (ou: a melhor forma de ver Gangnam Style)

A essa altura você provavelmente já viu Gangnam Style (o hit do verão coreano) das mais diferentes formas: da versão gaúcha ao mashup russo do Michel Teló; da versão do Deadpool a Flash mobs por diferentes partes do mundo. Mas a versão que você deveria mesmo ter visto (pelo menos, dentro deste blog) é a versão sem áudio (até porque, convenhamos, a música nunca foi lá essas coisas).

Nova perversão videoclípica e novo exercício de edição, a "técnica" consiste em tirar a música e colocar efeitos em cada um dos takes, simulando como ficaria o vídeo se fosse editado usando apenas os sons naturais, captados diretamente.



Como você pôde ver, Gangnam Style sem música vira uma obra surrealista e esquisofrênica, mais parecendo um experimento do David Lynch que um videoclipe de uma música pop. Mostra também que muitos videoclipes não se sustentam e não ganham significado sem a presença da música, sendo a edição, em boa parte dos casos, uma junção meio ao acaso e desconexa de diferentes vídeos. As imagens estão ali para ditar o ritmo e gerar um clima associado à música, não precisando ter necessariamente um sentido.

Caso diferente disso é o cinema, onde a música e a trilha sonora têm a função de dar ritmo e gerar climas específicos (principalmente nos filmes de gênero, como terror e suspense). Bom exemplo contrário, de como a música amplia o poder das imagens, você pode ver no vídeo abaixo, com dois mestres das duas coisas (direção e trilha sonora): Steven Spielberg e John Williams.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Baby Got Back e Sir Mix-A-Lot (ou: quando os editores mais criativos são os não-editores)

O nome da banda vale também para o figura que editou o vídeo. Usando uma música do rapper Sir Mix-A-Lot, um cara que gosta de cinema e não edita profissionalmente misturou falas de 295 filmes para recriar a letra da música. Segundo ele, demorou quatro meses para terminar o ambicioso projeto. E agora, em pouco mais de uma semana, já conseguiu quase 3 milhões de visualizações. 

Divirtam-se. (A letra da música aparece automaticamente. Ligando o closed caption você pode ver os títulos dos filmes. Arraste o texto para outro lugar da tela se quiser ver melhor).

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Tudo o que você queria saber sobre o Homem-Aranha mas tinha medo de perguntar (reunido em um só programa)

Hoje, 9 e meia da noite, estreia na HBO Plus mais perto de você o programa The Amazing Spider-Special, grande homenagem ao HOMEM-ARANHA que tive o (enorme) prazer em dirigir.




Ele junta o que há de melhor relacionado ao herói espalhado pelo mundo, comentado, é claro, por quem melhor poderia falar sobre o assunto. De forma sucinta:

1. Ninguém melhor para descrever o herói e falar sobre todas as suas características, dos vilões à personalidade complexa de Peter Parker, do que o brilhante time que toca a Marvel (e as publicações relacionadas ao personagem) hoje em dia. São eles: Joe Quesada (Chief Creative Officer), Axel Alonso (Editor In Chief), Tom Brevoort (SVP/Executive Editor), Steve Wacker (Senior Editor, Spider-Man), Tom Brennan (Associate Editor, Spider-Man), Ellie Pyle (Assistant Editor, Spider-Man), Dan Slott (Writer) e Paolo Rivera (Artist). Para relembrar, aí abaixo uma das minhas capas prediletas do Paolo Rivera.



2. Adiantamos o que vem por aí no filme novo, comentado (com exclusividade) pelo novo time do diretor Marc Webb (que traz no nome um trocadilho com o Homem-Aranha, inclusive): o ator Andrew Garfield, fã declarado do personagem, Emma Stone (namorada dele dentro e fora das telas) e Rhys Ifans (que vive os dois lados do vilão Lagarto).

3. Mostramos um tour em NY que mostra os lugares da cidade que serviram de locação para os 3 primeiros da série, que também são lembrados ao longo de todo o programa. Os filmes, inclusive, os TRÊS, estão na programação do canal.

4. Entrevistamos os atores principais e mostramos os bastidores do novo show do Homem-Aranha da Broadway, que conta com músicas do U2 (legal...) e vôos em cima da galera (GENIAL!).

5. Apresentamos a nova atração do parque da Universal dedicado ao Homem-Aranha, que também traz as famosas aparições de Stan Lee em uma bela animação em 3D.

6. E deixando o melhor para o final (do post e do programa) vos comento que ninguém menos que STAN LEE dá seu depoimento e manda o recado para os fãs latinos (honra sem precedentes entrevistar ele, devo admitir).

Concluindo: você é fã do Homem-Aranha? Então não perca. Não é fã? Pois deveria ser. :)

Os demais horários em que o programa será exibido você encontra nesse link:

E fique ligado na programação da HBO Plus. Além do programa e dos três primeiros filmes, programas curtos espalhados pelos breaks trazem mais informações sobre cada uma dessas coisas. Genial, não?
EXCELSIOR!!!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Premonição 5": um novo clássico

Existe o cinema de roteirista (cujo auge podemos dizer que foi nos anos 50 e 60, através de figuras como Billy Wilder, por exemplo); existe o cinema de diretor (anos 70 e 80, Truffaut e Godard de um lado, Coppola e Kubrick do outro); e existe o cinema de produtores. Nessa última categoria estão boa parte das séries que não ficam só numa trilogia, os filmes de adolescente, comédias pastelão e comédias românticas, filmes de terror e suspenses baratos, aventuras e filmes de perseguições em geral, animações infantis, filmes do universo HQ, adaptações de videogames e remakes de todo e qualquer filme que tenha feito sucesso no passado e você ainda se lembre (o caso mais ridículo me parece o próximo filme a ser lançado do Homem-Aranha). Ah, e claro: quase todos os filmes em 3D (não se engane, isso acontece desde os anos 50).

Essa pitoresca categoria tem suas famosas características: 
1. visa o lucro (acima de tudo); 
2. Procura sempre criar uma marca, gerando novas possibilidades de continuação (e remake) - e claro, mais lucro; 
3. não precisa ser lá muito inteligente, nem inovar em muitos aspectos, nem ter diretores e roteiristas conhecidos; 
4. Sendo assim, opta pelo roteiro manjado, de estrutura clássica, previsível e com final feliz (que não precisa ser necessariamente coerente; precisa ser FELIZ); 
5. Tem um ritmo específico, edição a serviço da história, invisível, sem divisões de tela (a não ser que alguém fale ao telefone) ou cortes inovadores ou extremamente rápidos (o que também faz parte do 3D, que é para não convulsionar ninguém); 
6. Pode ser de alto (ou altíssimo) orçamento, desde que vise um faturamento maior ainda (afinal, é de produtores que se trata); 
7. Costumam ter caras conhecidas (quase sempre "A" mais conhecida - ou que ganha mais no mercado); 
8. É preferível que estejam atrelados a outras possibilidades mercadológicas (se não vende boneco, dá para um videogame, uma série animada na TV ou mesmo alguns tantos comentários em comunidades do facebook); 
9. Não, festivais nem morto, não ganhará nada mesmo. No máximo uma Comic-con (ainda assim com receio de que receba mais críticas que elogios); 
10. Até porque, o filme deve sair o quanto antes das salas de cinema (a não ser que as pessoas queiram ver o filme mais de uma vez e vire cult) para dar espaço ao que vem depois (e que eles acham até mais legal): os dvds blu-ray com milhões de extras, os canais de tv a cabo, exibições em aviões, pay-per-view, etc.

Tudo isso para falar que hoje (dia 23 de setembro) estreia um (novo) clássico do gênero: Premonição 5. Ah, e em 3D. 


Tem quase tudo isso aí em cima. Com algumas diferenças. A  principal delas: ao contrário da maioria das comédias românticas e filmes de terror (já que é disso que se trata), ele é genial. Eis os motivos:
1. Consegue ser genial mesmo sendo o quinto filme da série e repetindo pela quinta vez a mesma fórmula, com todos os pequenos detalhes criados por ela (à exaustão). 
2. Além disso, o filme não conta com nenhum ator famoso (boa parte dos atores vieram de series televisas e -quem já viu um filme da série vai entender- logicamente não estavam em nenhum Premonição anterior). 
3. É dirigido por um estreante; Steven Quale é um expert de 3D, trabalha faz tempo com James Cameron, mas nem tem uma biografia ou foto no imdb (ainda). 
4. (aqui o melhor) Você já entra na sala de cinema sabendo como ele vai começar, desenvolver e concluir (como em toda comédia romântica) mas aqui, essa é justamente a graça da coisa. Mais do que saber se a mocinha vai morrer ou não no final ou quem é o responsável pelas mortes (tentando atribui algum sentido), aqui você quer saber (como em todos os filmes anteriores da série) COMO eles vão morrer (e muito dessa lógica é puro nonsense). 
5. São de fato as mortes mais elaboradas (e criativas) da história do cinema e você vê ao vivo, sem recriações posteriores em flashbacks feitas pelos legistas (que é a lógica televisiva atual, de séries como CSI ou Dexter). 
6. Para melhorar: é em 3D (sério). É provavelmente o melhor uso já feito para o 3D. Ao invés de ver um alien gigante dançar para uma árvore ou um escandinavo genérico (que pensa ser de outro planeta) jogar um martelo de um lado a outro, juro que prefiro ver uma morte divertida (se isso for possível), pulando sangue, miolos e tripas em direção aos meus óculos (acaba sendo mesmo divertido no final das contas). 



É pura diversão (e nisso nossos amigos produtores merecem todo o crédito). E o melhor: criaram um filme para se ver NO CINEMA. Rindo, gritando e se divertindo junto com todos os outros pirados devoradores de pipoca, que não conseguirão falar nada dessa vez que consiga estragar o seu prazer de ver o filme. Críticos vão dar no máximo duas estrelas (o que é inclusive coerente), mas que não tiram de nenhum modo o prazer de ver o filme. É diversão honesta, que entrega exatamente o que propõe (pelo menos dessa vez).


Um adendo: não sei se para fazer a promoção do filme ou para garantir apenas a diversão deles mesmos, Miles Fisher, um dos principais atores do filme (o que parece o Tom Cruise), publicou no Youtube um vídeo que ele também escreveu (além de atuar). Traz a lógica do filme para o que poderia ser um estúpido episódio de série de escola infantil, com músicas e tudo isso, visual meio anos 80, contando com todo o elenco do filme e mortes também elaboradas e criativas. Aí vai:

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Impressão Digital (dos filmes) - por Domênica Mantel

A trilha sonora do Tubarão do Spielberg. Os créditos de qualquer filme do Woody Allen. A cena clássica do chuveiro de Psicose do Hitchcock. Todas essas características, são marcas registradas dessas obras e do nosso imaginário comum. Mas o designer Frederic Brodbeck levou o conceito além e criou o Cinemetrics, um projeto que sintetiza em forma de representação gráfica a essência dos filmes, formando um tipo de impressão digital para eles. Para isso ele monta uma estrutura em forma de espiral na qual imprime ao mesmo tempo elementos como montagem, cor, intensidade de diálogos, e cria uma forma diferente de comparativo entre obras de um mesmo diretor como Wes Anderson ou entre refilmagens como o “Solaris” de Steven Soderbergh e o original de Andrey Tarkovskiy. Eu sei, parece confuso, mas o video é autoexplicativo e bem bom:


Descobri o rapaz por meio do Brainstorm e ao pesquisar seus trabalhos notei que essa opção por informações altamente concentradas é uma marca em seus projetos. Exemplo disso é o “Movie Core”que traduz filmes em imagens “esculturais” como estas aqui de “Os Excêntricos Tenenbaums”:


Ou este clipe, digamos que minimalista, da música “Buddy Bradley” do Adam Green:

Poder de síntese não é pra qualquer um. Vale a pena conhecer o artista. Bora lá? http://www.fredericbrodbeck.de/


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Essa é a primeira contribuição de Domênica Mantel para o blog. Formada em cinema e roteirista em tempo integral, é também interessada por tudo o que acontece no mundo dos filmes e na televisão. Já destrinchou House (você pode ler textos caprichados sobre TODO e QUALQUER episódio da sétima temporada no blog Sobretv.net) e mantém outras divagações no blog Tudo Fundido (também trocadilheiro, olha só). Vale a visita. Siga também em: @Dodomlyns

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O filme do Gainsbourg, Joann Sfar e porquê os cartunistas um dia revolucionarão o cinema

Estreia nesta sexta-feira o filme "Gainsbourg - O Homem que amava as Mulheres", dirigido pelo cartunista Joann Sfar. Antes de tudo uma ressalva: me parece descabido (como sempre acontece) a tradução do título. No lugar de vida heróica colocaram o homem que amava as mulheres, emprestando o título do filme do Truffaut de 1977 para ampliar o apelo sexual que o filme tem, contando que a estratégia pode garantir mais entradas (e mais dinheiro). Sai o herói, entra o mulherengo. Sai o cartunista e músico de sucesso, com carreira brilhante, entra o cara (sortudo) que ficou com duas das mais belas mulheres da história recente: Brigitte Bardot e Jane Birkin.



Pois é com maestria que Joann Sfar, em sua estreia cinematográfica, consegue retratar todos esses lados da mesma pessoa, de forma leve, descontraída, sem se levar muito a sério (o que tem a ver, penso, com o jeito como Gainsbourg encarava todas as coisas). Não é a história oficial e verdadeira de Gainsbourg (como o diretor faz questão de anunciar no filme), senão uma interpretação livre e criativa de algumas das histórias relacionadas a ele, "um dos maiores artistas do século XX, que reinventou a música e o amor", como descreve o (belo) trailer.

Mas onde o filme mais acerta (pode deixar, sem spoilers aqui) é na mistura de linguagens e no uso criativo de muitos elementos narrativos. É como se o Gainsbourg pessoa fosse evoluindo junto ao Gainsbourg personagem, dialogando ação e imaginação durante todo o filme.

Isso acontece porque Sfar é um cara de imagens (é cartunista) e sabe dos potenciais narrativos na hora de contar uma história (em um e outro meio). Vai inclusive pelo caminho inverso da maioria das histórias baseadas em HQs: se a franquia X-Men se esforça mais a cada filme em parecer real e verossímil (o que fica ainda mais claro com esse First Class), usando os efeitos para provar o que só existia na nossa imaginação, no filme de Gainsbourg, efeitos, animação e uso de marionetes estão ali para sugerir, fantasiar e dialogar com a história que está sendo contada, ampliando seu potencial narrativo. Em um texto extremamente interessante de seu blog Sfar comenta seu processo criativo, mostrando como as duas coisas, ilustração e texto, quadrinhos e cinema, estão associados no seu trabalho (e como acaba usando um, mesmo quando está fazendo o outro). Como na frase (o blog está todo em francês e inglês):

"I also like this eternal feedback loop when shooting the movie, when I go back to my water-colours and draw a live actor being an imaginary character. (...) Building a narrative by opposing drawings and actor’s words, by making them dance together, is an inexhaustible source of inspiration."
(Trad.: Eu sempre gosto deste eterno vai-e-vem quando dirijo um filme, quando eu volto para a pintura e desenho um ator sendo um personagem imaginário. (...) Construir uma narrativa opondo desenhos e palavras dos atores, fazendo com que elas dancem ao mesmo tempo, é uma inesgotável fonte de inspiração)



Não por acaso seu novo filme (que estreou agora na França) é o desenvolvimento de uma das suas obras mais famosas. Desenvolvimento, já que: "I hate those stupid ideas like 'a movie based on a comic album'. When you create both yourself, it’s the same work." (trad.: Odeio estas ideias estúpidas como 'um filme baseado numa HQ'. Quando você cria as duas coisas, é o mesmo trabalho.") Le chat du Rabbin (ou o gato do rabino) é uma historia que ele começou em 2002 e que agora chega aos cinemas com o mesmo traço característico. Abaixo o trailer (em francês).



Acho (ou torço para) que um dia o futuro do cinema pode vir também desses caras (me interessa especialmente esses casos); de pessoas que pensem o cinema de forma mais ampla, que misturem linguagens, que joguem com novos elementos, que misturem realidade, imaginação, sonho, etc. de forma que faça sentido (ou que seja ao menos atraente) e/ou fique visualmente interessante. As histórias em quadrinho jogam há muito tempo com algumas dessas ideias (falei mais disso aqui); é ver quando elas podem também chegar ao cinema de forma mais efetiva. O filme do Gainsbourg já é um desses exemplos. Fico imaginando o que Laerte, Angeli, Adão e Gonsales e, na América Latina, Quino, Liniers e Montt, para citar só alguns, poderiam contribuir ao nosso irregular (e às vezes pouco criativo) cinema.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cannes, A Árvore da Vida, montadores e Daniel Rezende


O vencedor da Palma de Ouro em Cannes esse ano foi A Árvore da Vida, último filme de Terrence Malick. O filme americano conta com as participações de Brad Pitt e Sean Penn e é descrito como um drama com elementos surreais e influência da ficção científica (o que pelo visto poderia ser também dito do Melancolia do Lars Von Trier, filme que mais chamou atenção nesta edição do Festival - graças a polêmicas declarações do diretor - e rendeu prêmio de melhor atriz a Kirsten "Mary Jane" Dunst). Confira o trailer do filme abaixo (o de Melancolia você já viu aqui).



O que me chamou atenção em relação ao filme vencedor (e é especialmente importante para este blog) são os nomes que assinam a montagem do filme. São cinco pessoas no total (não consegui descobrir qual o papel de cada um deles): um tal Mark Yoshikawa; Billy Weber, montador de clássicos dos anos 80 como Top Gun e Um Tira da Pesada, e do Além da Linha Vermelha, também do Malick; Hank Corwin, montador do excelente (e obrigatório no tema) Assassinos por Natureza - é curiosamente o primeiro filme que ele montou; Jay Rabinowitz, montador de filmes importantes de dois dos maiores diretores atuais: Jim Jarmusch e Aronofsky - ele montou o mais obrigatório ainda no tema Réquiem para um Sonho; e por último (e mais importante) Daniel Rezende, o mais importante montador brasileiro do momento, que já foi indicado por Cidade de Deus ao Oscar e montou os Tropas de Elite, Diários de Motocicleta e uns tantos outros.

Uma das melhores seleções de montadores de todos os tempos e mais um destaque para Daniel Rezende, nome importante de nossa cinematografia. Rezende também já fez sua incursão à direção com o curta Blackout, que ele mesmo disponibilizou no Vimeo. Curta interessante que conta com a participação de Wagner "Capitão Nascimento" Moura e do diretor de fotografia César Charlone (que também atua). Confiram o curta abaixo na íntegra.



[spoiler] Como todo bom curta de montador estão aí as telas em preto, os planos-sequência e alguns elementos gráficos (os ponteiros do relógio) para dar graça à história. Ágil, atual e bem interessante, não acham?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um novo Lars Von Trier enquanto o mundo não acaba

Pare o que está fazendo.

Está no ar o trailer para o novo filme do Lars Von Trier, o Melancholia. Desta vez com uma seleção de bons atores, como Kirsten Dunst (Homem-Aranha), Charllote Gainsbourg (Anticristo), Kiefer Sutherland (24 Horas), Charlotte Rampling (Swimming Pool), John Hurt (Harry Potter) e os dois Skarsgard (como coloca uma bola em cima do "a"?), Stellan-pai-(Thor) e Alexander -filho- (True Blood). E claro, pode ficar tranquilo (se você é fã dos filmes do Lars, como eu), o Udo Kier continua no elenco (já o mesmo não pode ser dito do Jean-Marc Barr).


Pela definição, é algo entre o Festa de Família e o 2012 (se é que isso não poderia caracterizar quase todo filme). Nas palavras dele: "a beautiful movie about the end of the world" (ou: um bonito filme sobre o fim do mundo).

Confiram o resultado abaixo:


Agora, é torcer para estrear logo nas nossas salas.

Ps. sempre que colocam os atores com algum exemplo de filme já feito por eles, como eu fiz aqui, acabo formando uma imagem conjunta de todos eles. Nesse caso, não sei o que daria entre o cruzamento do Thor, do Homem-Aranha e do Harry Potter com o Swimming Pool e o Anticristo. Ficaria algo bem estranho. (Mas provavelmente nem perto de ser tão estranho -ou tão bacana-como o filme que o Lars Von Trier deve entregar desta vez. Vai por mim.)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Os geniais efeitos visuais de Cisne Negro (contém spoilers, já aviso)

Você não se perguntou durante o Cisne Negro onde infernos estariam as câmeras (e todo mundo que trabalha ao lado dela) naqueles muitos planos no salão de ensaio, cheio de espelhos? Ou não se perguntou se era mesmo a Natalie Portman que dançava aquilo tudo? Ou mesmo, como eles faziam todos aqueles efeitos da "transformação", que conseguiam ser ao mesmo tempo artísticos e realistas?

Pois aí está um belo vídeo de making of para nos ajudar.



O legal do vídeo é que mostra o truque cinematográfico ao mesmo tempo que mostra como a mensagem foi ampliada por essas muitas camadas feitas em pós-produção (como no caso do belíssimo plano da tatuagem de asa, por exemplo). Como falado no post anterior sobre a série In Treatment, esse tipo de coisa (como imaginar onde estaria a câmera em muitos planos, por exemplo) pode não ser imaginado ou mesmo cogitado por um espectador comum, mas serve para ampliar a reflexão sobre as imagens e gerar novas possibilidades narrativas. Ainda mais no caso do Cisne Negro, em que a história da bailarina e a interação com o instrutor de ballet (vivido pelo genial Vincent Cassel) apontam claramente para a relação da atriz com a personagem (que em alguns casos pode consumir demais a pessoa que interpreta, que começa a confundir os "papéis" - como no caso Heath Ledger/Coringa, imagino); e na relação própria entre a atriz e o diretor, que às vezes joga com o psicológico da atriz para alcançar o resultado desejado.

A pós-produção e montagem ajudaram no caso do filme a expandir essas possibilidades, jogando novas "camadas" de profundidade em uma já profunda história.

Ps. pros que se interessarem em ampliar o conhecimento sobre o filme, recomendo ver no Youtube uma longa entrevista (de quase UMA HORA de duração) com o diretor de fotografia Matthew Libatique, o montador Andrew Weisblum e o diretor, Darren Aronofsky, falando de forma quase informal sobre os diferentes aspectos do filme (clique aqui se quiser ver). Há outra com Natalie Portman, de pouco mais de meia hora que é também bem interessante (ela responde a pergunta "Você chegou a discutir com o Aronofsky se você realmente morre no filme?", já aviso) - para ver, clique aqui.

Ps2. Também falei do Cisne Negro em outro post, mas rapidamente, comentando os indicados ao prêmio de montagem do Oscar.
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Atualizado em 29/03:
Uma ressalva: o vídeo que você vê acima não é o mesmo que eu tinha postado originalmente. O vídeo que eu tinha colocado acabou sendo tirado do ar e as únicas opções encontradas na Internet hoje em dia são vídeos oficiais da Fox. Há uma explicação para isso: enquanto Benjamin Millepie, marido de Natalie Potman e bailarino no filme, diz que a participação dela foi de pelo menos 85% nas cenas de dança, Sarah Lane, a dublê de corpo, fala que é algo como 5% (essas declarações vieram depois da premiação do Oscar, obviamente). No vídeo original dava para ver a troca do rosto de uma pela outra em pós-produção (daí porque eu falo no início, inclusive, sobre ela dançar ou não aquilo tudo). O vídeo atual continua interessante, mas substitui as cenas de dança por outras cenas com os jogos de espelho, em que se mostra o terror da personagem (efeitos para mostrar o irreal, o psicológico) mas não a dança e outros planos mais simples (aqui reais, em teoria). Aqui há mais informações sobre o caso, para quem quiser (em inglês).

quinta-feira, 10 de março de 2011

Quando o roteiro, a direção e a montagem são executados com maestria. (ou: as idéias por trás da primeira temporada de In Treatment)


Me deram alta. Hoje finalmente acabei de ver a primeira temporada da série In Treatment (aqui Em Terapia), produção da HBO (atualmente em cartaz em sua terceira temporada). Se você não conhece eis aqui uma rápida publicidade desta primeira temporada da série:



E se você não sabia, a série é uma adaptação de uma produção israelense feita três anos antes com basicamente os mesmos personagens e conflitos desta primeira temporada americana. Aqui a apresentação (mais detalhada que a anterior) da série original:



Algumas idéias que me fizeram ficar viciado na série:
1. O formato é genial. Episódios curtos, de menos de 30 minutos, que vão ao ar de segunda a sexta, cada um deles com o paciente do dia (o de sexta é para supervisão, ou seja, ele é o paciente). Isso não só é um fator viciante como dá um dinamismo bem grande à série; muitas vezes você se pega querendo pular uma semana para descobrir logo o que acontece com o personagem (o que eu na verdade não recomendo).

2. Há ali todo tipo de conflito: amoroso, profissional, familiar, etc. Cada hora você acha que tem mais a ver com um paciente (e um tipo de conflito) e isso costuma variar bastante ao longo da temporada.

3. O roteiro é primoroso. Diálogos objetivos, que conseguem prender e instigar o espectador ao mesmo tempo que garantem bom ritmo e soam naturais em quase todo o tempo (pelo menos para mim), tendo bom desenvolvimento ao longo da temporada.

4. Ao ver o filme Inception/A Origem, de Christopher Nolan, me perguntei se aquilo não poderia ser mais denso e mais perturbador (sendo também mais efetivo), entrando mais na cabeça (aqui também literalmente) dos protagonistas e expondo os conflitos, sem tantas explosões e tiros para tudo que é lado. Algo que seria no final das contas mais complexo e feito, possivelmente, de forma mais barata, já que você não cria tantas situações mirabolantes. Seria algo como o eXistenZ do Cronenberg, só que não tão viajado ou bizarro.

Pois bem, o In Treatment entra nessa categoria. Por que não gastar a meia hora do episódio focando apenas na interação entre as duas pessoas, em um ambiente fixo, sem maiores ações, flashbacks ou representações fictícias do que está sendo falado? Essa era a proposta da série e me parece extremamente efetiva. É dado ao espectador o poder da imaginação (assim como trabalha o psicanalista diariamente) e essa é a graça da coisa.

5. (e aqui chegamos ao tema central deste blog) A série é um ótimo exercício de direção e principalmente, de montagem. Ao trabalhar basicamente com diálogos, um único ambiente, sem maiores apoios cenográficos, com apenas dois atores, sentados, falando por meia hora, é preciso representar os movimentos que, em um processo psicanalítico, representam coisas -falam tanto quanto o diálogo- além de dar bom ritmo e prender o espectador.

Há dois pontos que me parecem especialmente representativos dessa idéia e que ilustram possivelmente as duas coisas mais complicadas do trabalho de montagem:

a. Ação/reação. Um exemplo claro disso tínhamos também nos filmes (também só de diálogos) Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-sol, dirigidos por Richard Linklater. Ao colocar duas pessoas também conversando durante toda a duração do filme, eles tinham que, a todo tempo, mostrar a pessoa que fala (e que sugere algo) e a que que reage (aceitando ou rechaçando algo). Mais que isso, eles tinham que representar em gestos o que não é dito: um olhar que provoca; um não que quer dizer sim; uma levantada de sobrancelha desconfiada. E aí está boa parte do trabalho do montador, sabendo quando mostrar a ação e quando sugerir a reação, durante um diálogo, optando cada hora por um plano diferente. A mesma preocupação existe na série.

b. Quebra de eixo/direção do olhar. Eis uma das coisas mais dificilmente explicadas em aulas de direção e que o montador tem que estar a toda hora atento durante o processo. Ao inverter o eixo da câmera, colocando ela numa posição oposta ao sentido em que estava (em relação à ação), mudam-se as direções de olhar e sentido da ação, confundindo o espectador. O que em geral se atém para não parecer um erro, na série é usado com sentido narrativo. Ao trocar de uma hora para outra o eixo da câmera, passando para o outro lado da ação (do ombro esquerdo para o direito do analista, por exemplo), os olhares dos personagens trocam de direção, fazendo com que estes assumam posturas diferentes. O que antes estava em uma posição de defesa (e olhava para a esquerda da tela em boa parte das vezes) passa a assumir posição de ataque, olhando para o lado oposto. É um fator desconhecido para boa parte do público (que não percebe como tal) mas que certamente acaba influenciado por este tipo de linguagem (ou ao menos temos a tendência a pensar que sim). Dá de qualquer forma uma intenção para cada plano (e aqui valoriza o trabalho do diretor), além de um ritmo e uma dinâmica muito interessante (e o do montador também). Fica muito mais legal analisar o diálogo quando você está ciente dessas coisas; e pode interpretar que papel cada personagem está desempenhando nos diferentes momentos da série.

Tá dada a dica. (se quiser, clique aqui para ver em streaming o primeiro episódio - e ficar viciado para sempre).

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O oscar de montagem (ou: entre Inception e Social Network fico com Scott Pilgrim)

Contrariando a lógica de que o filme que vence o Oscar de montagem também ganha direção e melhor filme (lógica que prevaleceu ano passado com o Guerra ao Terror de Kathryn Bigelow, como falamos aqui), este ano tivemos A Rede Social premiado nesta categoria, enquanto os outros dois prêmios ficavam para O Discurso do Rei, de Tom Hooper. Outra coisa que também não aconteceu foi montagem ser premiada junto com categorias mais técnicas como as relacionados a som e efeitos especiais (aqui deu A Origem de Christopher Nolan -que não foi indicado como diretor, inclusive).


Logicamente os montadores Kirk Baxter e Angus Wall têm seus méritos, já que conseguiram dar bom ritmo e tornar bastante interessante um filme feito basicamente em cima de diálogos. Confira abaixo uma entrevista feita com os dois no momento seguinte à premiação. Aí eles comentam um pouco sobre essa dificuldade de trabalhar com muito texto; sobre o trabalho com David Fincher; e lamentam o diretor não ter levado no momento seguinte ao deles o prêmio também.



Mas se no post do ano anterior eu lembrava da não indicação de Redacted, de Brian de Palma para a premiação nesta categoria (o que já me parecia bastante estranho), este ano acho revoltante não termos Scott Pilgrim contra o Mundo, de Edgar Wright disputando a estatueta. Um filme atual e inovador, com uma quantidade assustadora de novas idéias por minuto, bem dirigido e bem adaptado do universo da HQ, com ritmo impressionante, apoiado em muitos efeitos e elementos gráficos diferentes. Um filme difícil de fazer e que se relaciona, na minha opinião, muito melhor com esse universo virtual/eletrônico atual, de tantas músicas em mp3, jogos de video game, televisão e Youtube (e faz isso através de um uso animal da montagem). Universo este que deveria também estar representado em A Rede Social, já que se relaciona com a história do Facebook, meio que junta todas essas mídias. A Rede Social usa da rapidez e agilidade da interação das redes sociais e é um filme inteligente e bem estruturado, mas é um filme de texto, de diálogo, careta portanto em certo sentido.

Se você acha que estou forçando a barra e a coisa não é bem nestes termos, veja abaixo então um extenso vídeo sobre os diferentes efeitos presentes no Scott Pilgrim, comentados pelo diretor de arte Nigel Churcher. (No Youtube também tem um making of de quase 50 minutos com detalhes do filme, para quem quiser se aprofundar mais).



Com isso, acho que a premiação do Oscar que vimos ontem ficou ainda mas sem graça, já que nela vimos poucos filmes competirem entre si em quase todas as categorias, sendo que muitas delas a vitória já era dada como certa por um deles muito antes de ser anunciada (como foi no caso de Toy Story 3). Mais competidores dariam mais dinamismo para a premiação, além de mostrar aos telespectadores que Hollywood não vai tão mal das pernas assim.

Em tempo: cabe aqui algumas ressalvas. Confesso que não vi ainda o 127 horas de Danny Boyle, diretor este que soube jogar incrivelmente com a montagem em diferentes filmes; seja com a lógica televisiva/bollywood em Quem quer ser um milionário?; seja com o irregular A Praia, em que víamos uma viagem de Leonardo DiCaprio inspirada também nos jogos de video game; ou no inquestionável Trainspotting. Muitos já me falaram que 127 horas cumpre o esperado.
Outra coisa é que também não mencionei Aronofsky e seu excelente Cisne Negro, filme magistral de outro diretor que sabe usar a montagem como poucos -Réquiem para um sonho e Pi são exemplos claros disso- e Cisne Negro não foge à regra. De um modo ou outro podemos dizer que a disputa estava mesmo acirrada. Se por um lado faltou Scott Pilgrim, por outro sobrou talento em poucos (e grandes) nomes.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sobre Fugazi, Cassavetes e trabalho na praia


Através do amigo Andre Cruz, conheci o Jaume Montané, uma das metades da produtora catalã Copilotos e criador de algo genial: o melhor videoclipe não-oficial do Fugazi, banda de Washington D.C. (a da foto acima) que além de vender seus álbuns com preço impresso na capa, tem a fama de nunca ter feito um videoclipe.


A música que ele escolheu acho que é a minha predileta (do meu álbum predileto) do Fugazi (uma das minhas bandas prediletas): a Cassavetes, do In On the Kill Taker (álbum de 1993). Usando o tema da música, ele cruzou apresentações ao vivo da banda (provavelmente tirada do Instrument, ótimo DVD deles lançado em 2001) com cenas do filme Faces, dirigido pelo John Cassavetes em 1968 em que mais uma vez Gena Rowlands, também esposa do diretor, atua (é também citada na letra da música). Ah, o filme foi rodado na casa do casal, inclusive. Confiram o resultado do videoclipe abaixo.



E para aproveitar este que deve ser o último post do ano (já que ninguém é de ferro!), aí vai uma publicidade da produtora deles, a Copilotos, que ilustra muito bem como é trabalhar (e ter uma produtora) nesta época do ano. "Alô? Não... não fechamos. Aqui estamos. Em que posso lhe ser útil?". Aproveito este post então para desejar boas festas a todos (e bom trabalho pros que ficam).



Em tempo: nestes 10 meses de vida do blog, já tive mais de 13 mil visitas. Obrigado pela preferência. Postando sempre para postar bem (ou seria o contrário?). Celebremos então!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

RIP Sally Menke


Morreu hoje, aos 56 anos, e de forma trágica, uma das maiores montadoras do cinema de todos os tempos, a Sally Menke. Ficou famosa por montar todos os filmes do Tarantino, dos quais recebeu duas indicações ao Oscar (por Pulp Fiction e Bastardos Inglórios). O meu favorito dela é certamente Death Proof, uma verdadeira aula de montagem. Ali vemos o uso de muitos filtros diferentes, efeitos, cortes errados propositalmente, um ritmo excelente nas diferentes partes, ótimas cenas de ação, tudo orquestrado de forma magistral - e feito em quatro semanas e meia, como nos diz Tarantino em um dos vídeos abaixo. É das que consegue usar a montagem para conduzir perfeitamente a história (de forma invisível) e também, como neste caso, potencializá-las através dos recursos disponíveis, assumindo sentido narrativo (aqui visível). A montagem vira neste caso um personagem a mais do filme e é responsável pelo visual genialmente diferente que vemos ali. Boa parte do sucesso e da graça dos filmes do Tarantino se deve a ela. Tanto que é considerada o braço direito do diretor. E pelos exemplos abaixo, em vídeo, vemos que mesmo estando numa salinha escura a kms de distância do set, ela era lembrada por todos os membros da equipe, em diferentes situações. Os "Hi Sallys", brincadeira que Tarantino fazia com a montadora durante a filmagem, é divertidíssimo e serve para mostrar a sua importância.



Vale também ler o texto escrito por ela para o portal do Guardian (clique aqui), em que comenta a sua trajetória, o trabalho com Tarantino e a admiração pelo trabalho de outra montadora notável, Thelma Schoonmaker, que trabalha desde sempre com Scorsese e que, com 14 anos a mais que ela, continua na ativa em ótimo processo criativo.

R.I.P. Sally Menke.
Bye Sally.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Próxima estação: Laranja Mecânica. Desembarque pelo lado direito do trem.

Um blog organizou um mapa do metrô com os 250 melhores filmes do Cinema, segundo a votação organizada pelo Imdb.com no ano passado. Assim como o mapa integrado de ônibus e metrô de São Paulo, algumas vezes fica difícil entender o quê Wall.e está fazendo ao lado de Casablanca. E assim como acontece na nossa cidade, ainda faltam inaugurar umas tantas estações. Principalmente em relação ao cinema europeu, alguns Dogma-95 ou filmes sul-americanos (nosso Cidade de Deus, pelo menos, está aí, ao lado de Na Natureza Selvagem e Amores Perros). O Imdb é um site americano afinal de contas e votações dos internautas dá nisso.

Os responsáveis pelo blog já avisam: para ir de Intriga Internacional (North by Northwest) até Alien, é preciso passar por Poderoso Chefão II.

Afinal, qual a sua linha predileta? (Veja o mapa abaixo. Clique para ampliá-lo).


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobre 007 (gadgets, segredos e claro, bondgirls)

"Quem é o vilão que conseguiu parar James Bond? São os problemas financeiros da MGM, dona dos direitos sobre a franquia mas que está arcada sob o peso esmagador de uma dívida de 4 bilhões de dólares". Notícia vai, notícia vem, fato é que cada vez está mais difícil para os fãs de 007 verem um novo filme, o que seria o número 23 da série. Problemas financeiros do estúdio complicam a produção do novo filme, ainda mais porque digamos que um filme do 007 não é o que poderíamos definir como sendo "baixo orçamento".



Para ajudar a baixar a espectativa, fiquemos então com o curta-metragem Secret Stash do taiwanês (!!!) Yiting Cheng. Não tem bond girls, não tem efeitos espetaculares, super vilões, Aston Martins ou Martinis ("Shaken, not stirred"). Mas tem a ver com uma das minhas partes prediletas de todos os filmes, desde criança (tirando as bondgirls): a parte dos gadgets. Uma pessoa que acompanha os filmes do detetive sempre quer saber o que mais pode ser colocado no relógio, na mala, no carro ou na caneta dele (no bom sentido, é claro) e como estas novas coisas vão salvá-lo no final do filme. Pois este curta, que não tem nada a ver com a série, dá algumas possibilidades de onde esconder coisas na sua casa, para você pelo menos se sentir mais próximo do James Bond (já que não dá para ter as bondgirls).


E se você esqueceu dos momentos marcantes da série, aqui um pequeno documentário de 10 minutos, com o genial Desmond Llewelyn, que interpreta o Q (o quê?), comentando alguns dos principais gadgets.



Ok, faltou bondgirls? Então aqui no Youtube tem uma lista com as 10 mais, ou se preferir, as 20 mais, para você. Música ruim, imagens de pouca qualidade e edição sofrível. Mas são bondgirls afinal de contas. Ah, Ursula Andress...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Origem (e a origem) de Christopher Nolan

Vá se preparando para um dos filmes do ano, que estréia nesta sexta-feira (ao menos em São Paulo). É o novo experimento de Christopher Nolan, o diretor inglês que já te deixou perturbado com Amnésia e Insônia e te divertiu um bocado com os dois últimos filmes do Batman.


O filme em questão se chama A Origem (Inception, no original) e conta com Leonardo DiCaprio (fazendo outro policial num mundo fantástico, como em A Ilha do Medo, que comentamos aqui), o casal amigo das boas comédias românticas: Ellen Page (do Juno) e Joseph Gordon-Levitt (de 500 dias com ela) e Michael Caine, um dos prediletos do diretor. E tem esse trailer animal aqui, que te deixa realmente com uma bela de uma expectativa:



E já que falamos do A Origem, de Chrisopher Nolan, me parece interessante também falar da origem de Christopher Nolan, ou melhor, de um dos primeiros filmes que o diretor fez (e que o ajudou a se lançar no mercado cinematográfico). Se chama Doodlebug (1997) e já foi lançado numa das edições de curtas europeus do bacana Cinema 16. Poderíamos interpretar como um típico exercício de escolas de cinema: foi feito em 16mm, uma única locação, um só ator, em preto-e-branco, sem diálogos. Ainda assim, o exercício ficou bem interessante e já mostra um pouco o universo em que viria a trabalhar futuramente o diretor: drama psicológico com influência de sonhos e alucinações, que nesse caso fica bastante surreal. Interessante também saber que no curta ele trabalhou como diretor, roteirista, câmera e também editor. Confiram o resultado abaixo.



Santa expectativa para o novo filme, Batman!

terça-feira, 27 de julho de 2010

thunder, THUNDER, THUNDERCATS, ooooooooooo

É bastante curioso ter expectativa sobre o possível filme dos Thundercats, que tempos atrás, havia sido previsto para sair este ano. Missão difícil (para não dizer impossível) a de transformar seres cinzas e amarelados, com orelhas e dentes de tigre, suspensórios ridículos e superpoderes, em algo divertido e interessante cinematograficamente. Mas se eles já conseguiram fazer um filme do X-Men e até do Watchmen, por que não iriam conseguir com mais esse? (Logicamente, parte do suposto sucesso destes outros implica em, por exemplo, tirar as orelhas marrons, assim como trocar todo o uniforme, do Wolverine, transformando o herói em um motoqueiro com garras; coisa difícil de mudar no universo dos Thundercats).


O fato é que está previsto para 2011 uma nova série de desenhos animados com os personagens no Cartoon Network (acima uma idéia do que seria o novo conceito visual da série). E um filme para 2012, com diretores, atores e etc, ainda bastante nebulosos.

Parte dessa grande expectativa dos fãs em relação ao filme se deve justamente a pensar como seria essa passagem dos desenhos, com toda a liberdade que eles tinham, para um ação com atores reais nos moldes dos filmes de super-heróis que temos hoje. Um poster que fizeram aí pelos anos 97/98 (assim como haviam feito antes do filme para o Watchmen), tenta ajudar a imaginação, colocando atores conhecidos, como Wesley Snipes e Ed Harris, no lugar dos personagens (abaixo).


Mais interessante que este exemplo, e um bom exercício de edição, é o trailer fake que fez o tal WormyT, disponibilizado no Youtube, para o que seria o filme dos Thundercats. Segundo ele, tudo foi feito no Photoshop, alterando quadro a quadro cenas de filmes famosos e depois juntando tudo no Premiere. É um trabalho bem feito que usa apenas softwares simples (só o logo final do trailer, em 3D, foi feito por outra pessoa). E é legal que ele consegue convencer - e saciar parte de nossa curiosidade - mesmo tendo que transformar o Garfield 3D dos novos filmes, no Snarf. Confiram o resultado abaixo.



Pra quem gostou, essa é segundo ele a lista de filmes usados:
10,000BC, Masters of the Universe, Indiana Jones and the Last Crusade, Lord of The Rings: Return of the King, Farscape: The Peacekeeper Wars, Chronicles of Riddick, Pitch Black, X2:X-men United, X-men:The Last Stand, Troy, Star Trek6: The undiscovered Country, Space Hunter: Adventures in the Forbidden Zone, Stargate, Mighty Morphin Power Rangers: The Movie, Garfield, Enemy Mine, Spykids, Underworld, The Mummy, The Mummy Returns, Galaxy Quest, John Carpenter's Ghosts of Mars, Planet of the Apes, Aliens, Mortal Kombat: Annihilation, Reign of Fire, Mad Max Beyond Thunderdome.

Para relembrar o desenho original (e voltar à infância), clique aqui.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A mágica do Chroma Key (e uma idéia sobre o "A Ilha do Medo", de Scorsese)

Sempre gostei de ver como muitos planos eram compostos na pós-produção, depois de serem filmados usando o Chroma Key (ou recorte do fundo azul ou verde, famoso também pelos VJs da MTV). O que antes ajudava a colocar o ator numa cena de ação, como em uma explosão, ou criava simplesmente o fundo para uma cena onde víamos um casal passear de carro, por exemplo, agora participa da filmagem de toda e qualquer cena em filmes como Avatar (2009) ou Capitão Sky e o Mundo de Amanhã (2004) -entre outros de ficção científica-; 300 (2006), Speed Racer (2008) ou Sincity (2005) -em que a idéia é se aproximar do tratamento visual da HQ ou do desenho animado-, entre muitos outros filmes.

O site CGSociety, em uma matéria, explica e ilustra de forma muito didática como foi feita a filmagem e a composição dos planos do filme A Troca (2008), de Clint Eastwood. Tendo que recriar a Los Angeles de 1928, muita coisa foi feita em pós-produção, mas segundo o site o desafio foi interessante já que a composição está em função da "emoção" e não da "explosão de dinamite". No filme eles buscaram algo intermediário entre a filmagem em locações e a de estúdio, usando o Chroma Key para dar mais profundidade e ilustrar melhor o caos que era L.A. na época, a então maior metrópole americana. Explicam que isso gerava um dinamismo melhor para as cenas, além de ficar com uma iluminação mais natural e portanto, mais verdadeira. Nos três quadros abaixo, vemos o ponto de partida e o resultado final, no filme. (No site há também um vídeo bem interessante - que não consigo colocar aqui-, que mostra rapidamente cada uma das camadas acopladas depois, na pós-produção, para outra cena).


Outro bom exemplo de possibilidades do uso do Chroma vemos no Reel da produtora americana Stargate, que trabalha muito com séries para TV. Aqui há estes exemplos de como sair de duas pessoas no fundo verde para um plano geral, com helicópteros, navios em chamas ou o que quer que você imagine.



Este final de semana vi o bom A ilha do Medo (2010), o último do Martin Scorsese. Gostei bastante do resultado e achei muito bacana como o diretor consegue misturar vários gêneros no filme: do policial ao thriller de suspense, com alguns elementos do terror, da ação ou do drama pscicológico. Mas em muitos momentos -como numa cena em que vemos Leonardo DiCaprio à beira de um penhasco; ou logo depois, conversando no carro com um dos policiais do centro psiquiátrico - me incomodei com a forma algo artificial em que a composição foi feita. Para os que viram o filme - e passado o desfeixo - pergunto: seria proposital, até porque alguns compararam elementos da construção do filme com o expressionista O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene? (Mais não falo, que é para não estragar nada para os que não viram).

Pros que viram, recomendo também a leitura de uma "sinopse mínima" feita no dia 14/03 por Zé Geraldo Couto, crítico da Folha, em que ele levanta algumas idéias interessantes relacionadas à este filme.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os efeitos visuais de "O Segredo Dos Seus Olhos"

No post anterior, usava o filme "O Segredo Dos Seus Olhos", do diretor Juan José Campanella, vencedor do Oscar de filme estrangeiro neste ano, para comparar as cinematografias de Brasil e Argentina. Mas pouco falei do filme em questão.


A verdade é que o filme vale pelo simples fato de ser um ótimo filme e por isso, fosse ele da Argentina, do Brunei, ou do Quirguistão, mereceria de qualquer forma o prêmio da Academia. O filme tem um ótimo roteiro, diálogos muito inteligentes, atores convincentes (e mesmo tendo o Darín em todos os filmes argentinos, acho que ele sempre consegue me convencer; neste até mais que em outros), ótima fotografia, planos interessantes e, é claro, um plano-sequência de cair o queixo.

Logo nos cinco primeiros minutos do filme, mostrando diferentes possibilidades de histórias a serem contadas, o diretor joga com diferentes texturas para mostrar uma história de amor (que mais parece comercial de margarina), uma despedida em uma estação de trem (com muito movimento, uma composição de planos que parece simular um sonho) ou uma cena de estupro (câmera na mão e muito movimento). Com isso, entra na história, que vai prendendo o espectador aos poucos, até o clímax final. Filme inteligente, com bom ritmo, despretencioso, que garante bons momentos cômicos e bons momentos de suspense e perseguição, sem nunca errar a mão. Vale lembrar que Juan José Campanella não só assina a direção como também o roteiro, a produção executiva e a montagem.

E como todo bom montador gosta de fazer, aqui temos um excelente plano-sequência, que quase chamou mais atenção que o próprio filme. Com duração de mais de 5 minutos, saímos de um plano aéreo de um estádio, vamos até o personagem principal e o acompanhamos em uma frenética perseguição, com muitas mudanças de ambiente. Abaixo coloco alguns vídeos que mostram como foram feitos os principais efeitos durante a pós-produção, principalmente para fazer este plano. Um efeito elaborado, usado anteriormente no filme "O Senhor dos Anéis" e usado pela primeira vez na Argentina, segundo eles.

E vale lembrar, para completar o post anterior, que esta foi a segunda indicação de Campanella ao prêmio de melhor filme estrangeiro, já que ele já havia disputado por "O Filho da Noiva", de 2001. E foi o segundo prêmio de filme estrangeiro do Oscar conquistado pela Argentina. O primeiro foi o tal "La Historia Oficial", de 1985, dirigido por Luis Puenzo.

Veja abaixo, os interessantes making-offs do filme, nessa sequência :(há muitos mais no Youtube. Aqui coloco os que achei mais interessantes ou relevantes)
1. Programa argentino (sem legendas) que mostra parte da cena, entrevista o diretor e outros envolvidos e ilustra parte dos efeitos usado no plano-sequência.
2. Rodrigo Tomasso, supervisor de efeitos, comenta sobre os efeitos usados no plano-sequência.
3. Um vídeo mais técnico, da produtora de efeitos, que mostra os diferentes layers 3D usados na primeira parte do plano-sequência. Muito interessante e ilustra o efeito magistralmente.
4. Aqui, eles mostram como foi feito outro ponto difícil do plano sequência, que é a queda do homem que é perseguido, quando a câmera sai de um andar e passa a acompanhar o homem no outro.
5. Por último, outro vídeo da produtora de efeitos especiais onde vemos a composição em 3D do plano do trem.
Aproveitem!