Muito em breve (4 de Janeiro, para ser mais exato) estreia nos cinemas a animação Detona Ralph, da Disney/Pixar, com direção de Rich Moore e voz de John C. Reilly no papel principal (o Ralph em questão). É a segunda obra da Disney que usa um simples jogo de video-game como ponto-de-partida para uma história mais complexa (narrativamente e graficamente); a primeira foi Tron. Desta vez os jogos clássicos dos consoles acabam também virando personagens e o resultado tende mais à comédia e à diversão.
O namoro entre video-games e cinema não para só aí. Recentemente vimos dois dos maiores nomes do cinema (e gênios na arte da montagem, devo acrescentar) assinarem publicidades de dois jogos, em bons exercícios de linguagem. O primeiro caso é dirigido por Guy Ritchie (de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch e outras tantas maravilhas) e o jogo em questão é o Call of Duty: Black Ops 2, que será lançado na semana que vem. (Atores como Galifianakis e Downey Jr. também fazem suas participações especiais).
Já David Fincher (de Clube da Luta e A Rede Social -que ganhou oscar de edição, se você bem se lembra) e Tim Miller (responsável pelos geniais efeitos do Scott Pilgrim) trazem até você o trailer do novo jogo da franquia Halo, que promete mais uma vez reinventar o mundo dos video-games. Enquanto o filme não chega (e a novela de quem seria o diretor e quando diachos ficaria pronto não acaba), nada como um vídeo (e um jogo desses) para acalmar os ânimos dos fãs da saga. Aproveite.
Continuando o tema de como a montagem é amiga do baixo orçamento, temos aqui mais um bom exemplo, dessa vez um curta-metragem de ficção científica. O curta "Scape from City-17" dos Purchase Brothers (nome curioso inclusive) é mais um caso de como se apropriar das novas tecnologias e misturar diferentes elementos para fazer um produto com uma cara extremamente inovadora mas feito de forma simples e barata. Aqui a graça é saber jogar com os elementos que estão disponíveis na Internet (de domínio público, leia-se) e saber integrá-los nos softwares de edição e produção 3D. Baseado totalmente na estética do video-game Half-life e usando assets (que são qualquer coisa existente nos jogos, de fundos e texturas a modelos 3D dos personagens e lugares, em geral acessíveis a quem sabe manipulá-los) exportados do próprio jogo, os irmãos souberam misturar esses elementos com imagens rodadas por eles em locações no Canadá para criar essa história futurística (que mais funciona como um teaser de outra história na verdade - daí até o parte 1 que eles colocam).
O que falha em tudo isso é justamente a história contada. Ao contrário de filmes antigos de ficção científica caseiros em que poderíamos ter histórias muito boas com efeitos risíveis, já que estes eram muito caros de serem produzidos, o que vemos agora é o contrário: a história não é mesmo o que eles mais querem passar; o objetivo aqui é chamar atenção para o fato de que eles conseguem convencer o público e fazer filmes muito interessantes visualmente com pouquíssimos recursos. O que levando em conta o cenário atual de Hollywood, em plena crise, parece uma idéia realmente interessante de se ter.
O curta funcionou e a atenção que eles conseguiram foi tanta que já foram chamados pelos criadores do game para futuros projetos, já estão pensando na continuação e até na possibilidade da ampliação deste universo para um possível longa-metragem. A mesma estratégia foi feita pelo sul-africano Neil Blomkamp, que com um curta (e uma excelente idéia e roteiro) conseguiu atrair a atenção de Peter Jackson (diretor da trilogia "O senhor dos anéis") para daí filmar o interessante Distrito 9, que concorre neste domingo ao Oscar de melhor filme, melhor edição e melhores efeitos especiais (entre outros). Por falar em Distrito 9, os irmãos diretores já até fizeram uma propaganda da Coca-cola (não Corta-e-cola, não confundam) onde mais parece que a nave do filme original foi substituída por gigantescas latinhas do refrigerante (que até se reproduzem, gerando pequenas latinhas voadoras).
A conclusão de tudo isso é que coisas realmente interessantes estão aparecendo no Cinema mundial, vindas de diferentes partes do globo por pessoas novas e que simplesmente sabem ter boas idéias (não necessariamente têm muito dinheiro) e sabem fazer isso sozinhas, sem esperar que um grande estúdio ou lei de incentivo (no caso brasileiro) caia no colo patrocinando a mirabolante idéia. E boa parte dessas idéias estão associadas a um uso inovador do processo de edição. É o postulado punk do Do It Yourself (DIY) associado ao cinema atual.