sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Premonição 5": um novo clássico

Existe o cinema de roteirista (cujo auge podemos dizer que foi nos anos 50 e 60, através de figuras como Billy Wilder, por exemplo); existe o cinema de diretor (anos 70 e 80, Truffaut e Godard de um lado, Coppola e Kubrick do outro); e existe o cinema de produtores. Nessa última categoria estão boa parte das séries que não ficam só numa trilogia, os filmes de adolescente, comédias pastelão e comédias românticas, filmes de terror e suspenses baratos, aventuras e filmes de perseguições em geral, animações infantis, filmes do universo HQ, adaptações de videogames e remakes de todo e qualquer filme que tenha feito sucesso no passado e você ainda se lembre (o caso mais ridículo me parece o próximo filme a ser lançado do Homem-Aranha). Ah, e claro: quase todos os filmes em 3D (não se engane, isso acontece desde os anos 50).

Essa pitoresca categoria tem suas famosas características: 
1. visa o lucro (acima de tudo); 
2. Procura sempre criar uma marca, gerando novas possibilidades de continuação (e remake) - e claro, mais lucro; 
3. não precisa ser lá muito inteligente, nem inovar em muitos aspectos, nem ter diretores e roteiristas conhecidos; 
4. Sendo assim, opta pelo roteiro manjado, de estrutura clássica, previsível e com final feliz (que não precisa ser necessariamente coerente; precisa ser FELIZ); 
5. Tem um ritmo específico, edição a serviço da história, invisível, sem divisões de tela (a não ser que alguém fale ao telefone) ou cortes inovadores ou extremamente rápidos (o que também faz parte do 3D, que é para não convulsionar ninguém); 
6. Pode ser de alto (ou altíssimo) orçamento, desde que vise um faturamento maior ainda (afinal, é de produtores que se trata); 
7. Costumam ter caras conhecidas (quase sempre "A" mais conhecida - ou que ganha mais no mercado); 
8. É preferível que estejam atrelados a outras possibilidades mercadológicas (se não vende boneco, dá para um videogame, uma série animada na TV ou mesmo alguns tantos comentários em comunidades do facebook); 
9. Não, festivais nem morto, não ganhará nada mesmo. No máximo uma Comic-con (ainda assim com receio de que receba mais críticas que elogios); 
10. Até porque, o filme deve sair o quanto antes das salas de cinema (a não ser que as pessoas queiram ver o filme mais de uma vez e vire cult) para dar espaço ao que vem depois (e que eles acham até mais legal): os dvds blu-ray com milhões de extras, os canais de tv a cabo, exibições em aviões, pay-per-view, etc.

Tudo isso para falar que hoje (dia 23 de setembro) estreia um (novo) clássico do gênero: Premonição 5. Ah, e em 3D. 


Tem quase tudo isso aí em cima. Com algumas diferenças. A  principal delas: ao contrário da maioria das comédias românticas e filmes de terror (já que é disso que se trata), ele é genial. Eis os motivos:
1. Consegue ser genial mesmo sendo o quinto filme da série e repetindo pela quinta vez a mesma fórmula, com todos os pequenos detalhes criados por ela (à exaustão). 
2. Além disso, o filme não conta com nenhum ator famoso (boa parte dos atores vieram de series televisas e -quem já viu um filme da série vai entender- logicamente não estavam em nenhum Premonição anterior). 
3. É dirigido por um estreante; Steven Quale é um expert de 3D, trabalha faz tempo com James Cameron, mas nem tem uma biografia ou foto no imdb (ainda). 
4. (aqui o melhor) Você já entra na sala de cinema sabendo como ele vai começar, desenvolver e concluir (como em toda comédia romântica) mas aqui, essa é justamente a graça da coisa. Mais do que saber se a mocinha vai morrer ou não no final ou quem é o responsável pelas mortes (tentando atribui algum sentido), aqui você quer saber (como em todos os filmes anteriores da série) COMO eles vão morrer (e muito dessa lógica é puro nonsense). 
5. São de fato as mortes mais elaboradas (e criativas) da história do cinema e você vê ao vivo, sem recriações posteriores em flashbacks feitas pelos legistas (que é a lógica televisiva atual, de séries como CSI ou Dexter). 
6. Para melhorar: é em 3D (sério). É provavelmente o melhor uso já feito para o 3D. Ao invés de ver um alien gigante dançar para uma árvore ou um escandinavo genérico (que pensa ser de outro planeta) jogar um martelo de um lado a outro, juro que prefiro ver uma morte divertida (se isso for possível), pulando sangue, miolos e tripas em direção aos meus óculos (acaba sendo mesmo divertido no final das contas). 



É pura diversão (e nisso nossos amigos produtores merecem todo o crédito). E o melhor: criaram um filme para se ver NO CINEMA. Rindo, gritando e se divertindo junto com todos os outros pirados devoradores de pipoca, que não conseguirão falar nada dessa vez que consiga estragar o seu prazer de ver o filme. Críticos vão dar no máximo duas estrelas (o que é inclusive coerente), mas que não tiram de nenhum modo o prazer de ver o filme. É diversão honesta, que entrega exatamente o que propõe (pelo menos dessa vez).


Um adendo: não sei se para fazer a promoção do filme ou para garantir apenas a diversão deles mesmos, Miles Fisher, um dos principais atores do filme (o que parece o Tom Cruise), publicou no Youtube um vídeo que ele também escreveu (além de atuar). Traz a lógica do filme para o que poderia ser um estúpido episódio de série de escola infantil, com músicas e tudo isso, visual meio anos 80, contando com todo o elenco do filme e mortes também elaboradas e criativas. Aí vai:

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

E hoje é dia de... Foals!

Logo mais toca em São Paulo os Foals. Ninguém tá dando muita bola, já que vão abrir pros Red Hot Chili Peppers, mas é certamente uma das melhores coisas a aparecer na música nos últimos anos. Som inteligente, indie rock dançante bem trabalhado que também vai na onda do math rock (mas sem ser tão cabeçudo quanto os Battles). Tocaram no Planeta Terra faz uns 3 anos e agora voltam com um segundo disco a um espaço bem maior (mas ainda como show de abertura). 


Uma das coisas que acho bacana na banda (e por isso merece destaque nesse blog) é como eles conseguem trazer essa lógica algo matemática da música para os videoclipes, o que acaba sendo representado principalmente através do uso da edição. Cortes bem rápidos acompanhando a música, manipulações da velocidade, misturas de linguagens e um bom uso dos estúdios, seja simplesmente com a banda tocando ou fazendo umas tantas ações esquisitas (como os muitos corações da ótima Cassius). Os videoclipes acabam tendo sempre essa mesma lógica também por terem sido dirigidos pelo tal Dave Ma, que é um antigo amigo da banda (com exceção do primeiro abaixo, Hummer, que foi dirigido por Ollie Evans).









Em tempo: Já que hoje também é dia de Red Hot Chili Peppers, fica aqui também a lembrança DESTE VIDEOCLIPE, certamente um dos mais importantes da história dos videoclipes (e que marcou -e muito- minha adolescência).