sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Corta-e-cola recomenda: Enter the Void (2009). Dir.: Gaspar Noé

Gaspar Noé é um diretor subestimado. Talvez por causa da famosa e longuíssima cena de estupro do filme Irreversível (protagonizada pela Monica Bellucci), o diretor passou a ser mal visto pelo público e por uma parte da crítica, como se quisesse apenas chocar sem ter uma mensagem para passar; e como se usasse os truques de edição por puro espetáculo, sem necessidade. Por causa disso, seu filme seguinte, Enter the Void, de 2009, obra (na minha opinião) a estar entre as maiores inovações e provocações do Cinema, nunca chegou às salas brasileiras e, desconfio, nem às locadoras ou lojas de DVD.


Gaspar Noé é o contrário de tudo isso e Enter the Void é um filme para ser visto e revisto, com bom áudio e de preferência em Blu-Ray. Ambientado no Japão e tendo o uso de drogas e a morte como temas principais, o filme traz um uso bastante diferente de movimentos de câmera (que o diretor já tinha provado em curtas e longas anteriores, incluindo o próprio Irreversível) mas, desta vez, esses adquirem poderosos efeitos narrativos. E a montagem, outra das muitas qualidades do diretor, joga brilhantemente com esses planos, criando momentos bem diferentes ao longo do filme.



O projeto nasceu, segundo o diretor, após ele ter visto drogado o filme A Dama do Lago, de 1947. Dirigido por Robert Montgomery, este é outra dessas experiências interessantes do cinema, já que é todo feito usando planos subjetivos (nos dois filmes conhecemos o personagem principal apenas através do espelho, feito com um plano trucado).



Os dois filmes (e o recurso) dialogam com o clipe de Smack My Bitch Up dos Prodigy, dirigido pelo também amigo da boa edição Jonas Akerlund, que tem em seu portfolio o filme com mais cortes da história (mais de 5 mil, segundo o Imdb): Spun - Sem Limites (do qual certamente falaremos em outra ocasião). Abaixo o clipe na versão sem sensura (mais coerente com o filme que é o assunto deste post).



Por último, se estamos citando referências e filmes relacionados, diria que Enter the Void é, provavelmente, junto com o Speed Racer dos irmãos Wachowski, o filme mais colorido da história (e daí o porquê de eu ter dito que funciona melhor em Blu-Ray). Nenhum outro além desses conseguiu capturar com tanta intensidade esse mundo ultra-tecnológico (do qual o Japão faz parte), com overdose de movimentos e luzes neon, já apontando para um mundo futurista bem bizarro (Blade Runner também recria a mesma coisa de forma brilhante, mas com tons bem mais sutis).



Ps. "Corta-e-cola recomenda" é um espaço que faremos, daqui por diante, com esses filmes que nos inspiram e que trazem inovações ou discussões que achamos relevantes. Se você tem alguma sugestão ou lembra também de algum filme que vá no mesmo sentido, por favor, mande para nós nos comentários abaixo.

2 comentários:

  1. Não conhecia o Enter the Void, fiquei curioso para assistir, vlw pela dica!

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    1. Valeu Mark. Se conseguir assistir, depois deixe aí suas impressões sobre o filme. Gostaríamos de saber. Abraços.

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