sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A montagem de Tropicália (ou: a arte de valorizar materias de arquivo)

Estreia hoje o documentário Tropicália, de Marcelo Machado. Documentário que funciona como registro histórico do que aconteceu culturalmente no Brasil entre 1967 e 1972 e tem como figuras centrais Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes (principalmente).



Mas o filme, como você pôde ver no trailer acima, vai muito além disso. Abarcando coisas relacionadas ao "movimento" que aconteceram simultaneamente no cinema, nas artes plásticas, no teatro e na vida política e social do país, ele faz um registro muito mais abrangente (e por causa disso, mais interessante). E para dar essa "cola" (usando aqui a expressão do mutante Sérgio Dias, que já aparece no trailer) há um criativo e muito bem aplicado uso da Montagem. 

Não só o ritmo do filme é bastante eficiente (as músicas se destacam e estão presentes em todo o filme mas não brigam com o texto nem se alongam demais) como há uma interessante mistura de linguagens e técnicas ao longo de todo o documentário. Assinada por Oswaldo Santana (que também montou o filme Bruna Surfistinha), a montagem acaba deixando quase sempre a fala dos entrevistados em BG, ilustrando o texto com composições e manipulações de capas de álbuns, fotos de arquivo e vídeos de formatos diferentes como tv, cinema, super-8, etc. 

Não só eles tiveram acesso a um material muito rico como souberam usar e manipular muito bem. O filme é no final extremamente colorido, mesmo usando quase que somente material em P&B, original da época. No arsenal de efeitos há rabiscos por cima de fotos, composições com capas dos discos (destacando detalhes da imagem), roupas e elementos pintados, que buscam retratar como eram os objetos originalmente, etc.



Outro acerto da parte da pós-produção é a animação simples e extremamente funcional do logo do filme. Inspirado na obra "Bichos" de Lygia Clarck (acima) -artista que também influenciou o movimento tropicalista- eles usam sólidos geométricos que se movimentam para formar o nome do filme e as datas dos acontecimentos.




Fica, assim, a dica para vocês assistirem esse que certamente será um dos melhores usos da montagem que você terá acesso esse ano, seja no cinema nacional ou internacional. Independente de gostar ou não da música a que o filme se refere, o filme vale para qualquer interessado por cinema e história.

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