terça-feira, 9 de março de 2010

O Oscar de edição de "Guerra ao Terror". (ou: porque mais uma vez o prêmio para a Edição não fez muito sentido)

E não é que quem ganhou o Oscar de Edição foram Bob Murawski e Chris Innis pelo seu trabalho em "Guerra ao Terror" da diretora Kathryn Bigelow? Sou mais um a arriscar palpites e a acabar errando (como todo mundo neste ano). O que mais me incomoda na verdade é que, de todos os indicados, acho que eles eram os que menos mereciam ter ganhado o prêmio na categoria. E isso não quer dizer que eu não tenha achado o filme bom ou que ele não merecesse os prêmios das outras categorias.


O filme é interessante, o tema é atual e relevante (o que explicaria o Oscar de roteiro original), tem planos belíssimos e boa direção de atores em uma crítica eficaz (o que explicaria os prêmios de direção e filme) e o tema bélico sempre usa ótimos recursos sonoros para fazer o público se sentir dentro da ação (o que explicaria os outros dois prêmios - mixagem e edição de som - que andam em geral juntos). Mas o prêmio de edição, como escrito no post anterior, acabou saindo em função dos outros dois prêmios principais (direção e filme), praticamente uma regra de toda edição do Oscar. Ou seja, é o pensamento de que se o filme é bom e bem dirigido, ele é consequentemente bem editado. Nisso está também a idéia implícita de que quem manda na edição é o diretor - o que é verdade em parte. O editor depende obviamente da visão e da opinião do diretor para fazer seu trabalho e aprovar boa parte das escolhas que faz (isso quando o diretor não é vetado do processo pelos produtores, o que era uma regra no cinema clássico americano). Mas acho que um prêmio de edição deve premiar aqueles profissionais que usaram o meio com mais eficiência; que criaram melhores linguagens usando seus recursos específicos; que conseguiram criar um ritmo próprio em montagem, não dependendo apenas do ritmo das imagens filmadas.

A edição de "Guerra ao Terror" está em função da história e pouco aparece; é completamente invisível, mais até que em Avatar, onde os efeitos 3D cobravam obrigatoriamente sentido. Cria um bom ritmo e o filme é bem eficiente, mas não há nada feito magistralmente ali na minha opinião. No início do filme ainda pensei que fosse ver algo mais inovador, já que a tensão da cena inicial é muito bem representada. Nela vemos o bom uso da imagem gravada pelo robozinho que faz a busca por bombas intercalada com imagens dos soldados que o controlam (por joystick) e imagens que localizam os personagens no contexto (a Guerra e a rua em que se encontram). A direção é eficiente, a sequência é bem ritmada e culmina na explosão, onde vemos muitos planos de detalhes e o salto do soldado em um bom jogo de ritmos (slows e fasts) que lembram bons momentos dos filmes de Guy Ritchie, como o início de "Jogos, trapaças e dois canos fumegantes".

Mas passada essa cena, a edição passa a ser mais burocrática, criando os climas e ritmos sem interferir muito, apenas mostrando as diferentes situações que vão acontecendo no passar do filme. É eficiente mas não é magistral, repito. Um filme da mesma temática, também atual e que trabalha todos esses recursos de forma muito mais eficiente é na minha opinião o "Redacted" do Brian De Palma (de 2007). Ali sim vemos o uso de diferentes formatos de gravação (de handcams dos soldados à câmeras de segurança dos lugares por onde passam) e ritmos completamente diferentes ao longo do filme (de um possível documentário feito por diretores franceses à uma colagem das imagens gravadas pelos próprios soldados, cada um com suas próprias características). Uma das coisas mais legais dos softwares atuais de edição é justamente que eles permitem essa integração de diferentes mídias (no filme aparece em alguns momentos até páginas da internet com vídeos), coisa difícil de integrar nas antigas moviolas. (Detalhe: "Redacted" não foi sequer indicado ao prêmio de edição e foi completamente ignorado pela academia no ano em que deveria participar).

Qualquer um dos três filmes (Preciosa, Bastardos Inglórios e Distrito 9) sabe usar melhor os recursos de edição na minha opinião (como falado no post anterior) e Avatar consegue propor uma nova forma de usar os efeitos e o processo- e faz isso bem. Bob Murawski e Chris Inis, editores de "Guerra ao Terror" fizeram um bom trabalho mas ganharam o prêmio por estarem no lugar certo na hora certa. O Prêmio de edição do Oscar pareceu mais uma vez não fazer sentido.

Para concluir, fiquem então agora com o videoclip de "Wrong Way" (não confundir com o caminho que o Oscar escolhe para premiar seus indicados) da banda americana Sublime. O quê tem a ver? Foi editado pelo Bob Murawski, um dos editores do filme, segundo me diz o Imdb. No clip vemos, aqui sim, muitos recursos de edição: composições de plano, algumas texturas nas imagens, (d)efeitos especiais... Mal empregados na minha opinião (e de forma bastante gratuita).




Em tempo: Um ponto que me parece curioso dessa edição do Oscar para nós brasileiros é o fato de "Guerra ao Terror" ter sido o grande vencedor justamente na noite em que se homenageava o gênero Terror. Parece irônico, não?

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