O ex-professor Luiz Felipe Pondé fez uma comparação brilhante entre as cinematografias brasileira e argentina em sua coluna da Folha do dia 29 de março deste ano (clique aqui para ler a mesma matéria, publicada na íntegra em um blog). Em seu "desabafo", começa falando que foi "mais do que justo" o Oscar recente para "O Segredo dos Seus Olhos" e que "o cinema de 'los hermanos' é melhor que o nosso". Continua: "Resumidamente, eu diria que nosso cinema é, em grande parte, imaturo, sem tradição estética, obcecado por certos temas monótonos, quase amador em termos de conteúdo, e se vê como instrumento de transformação social."
No artigo, critica essa visão política que todo diretor estreante diz ter, como se cinema fosse instrumento de transformação social. No artigo, desmonta o culto ao Glauber Rocha, que tal como Caetano Veloso, parece -pela visão da crítica e também do público- que criou tudo que existe até hoje e que o futuro dependerá sempre desses caras. A verdade é que brasileiro mal vai ao cinema para ver seus próprios filmes, seja para ver mega-produções, novelas extendidas, histórias intelectuais ou o que quer que seja. Não temos indústria, não temos constância, mal temos público. E ainda assim, nos sentimos injustiçados por nunca ter conseguido um prêmio do Oscar.
Outro professor, Fernando de Felipe, de Barcelona, comentava sobre o Oscar que os irmãos Cohen ganharam por "Onde os Fracos Não Têm Vez / No Country for Old Men", em 2008, falando que o Oscar vem exatamente quando os envolvidos não precisam mais dele. Ou seja, em geral ele não premia o filme; premia mais a trajetória do diretor, ator, produtores e demais envolvidos, quando estes já demonstraram em muitas ocasiões que são dignos do cobiçado prêmio (e se falamos de Oscar e irmãos Cohen, o Oscar que Jeff Bridges levou este ano - e não por "O Grande Lebowski"- confirma essa teoria). Os Cohens já alcançaram um status que conseguem fazer o que bem entendem, com quem bem entendem, do jeito que acham mais adequado. O prêmio não faz com que eles consigam mais e melhores atores ou contratos, ou consigam produzir melhores filmes ou com mais orçamento. Isso poderia servir quando eles lançaram o ainda "independente" "Fargo" de 1997 (ganhou só o Oscar de roteiro original). O prêmio, hoje em dia, só confirma o que todos já sabem.
Dito isso, voltemos ao cinema brasileiro: como querer ganhar um prêmio de melhor filme estrangeiro e ter a nossa cinematografia "enfim" premiada, se não podemos dizer nem que temos a tal "cinematografia"? Produzimos um Walter Salles, um Fernando Meirelles, um José Padilha e achamos uma vez mais que cada um deles é "o" cara e que agora sim merecemos o prêmio. Mais ou menos como pensar que o Beckham ou o Cristiano Ronaldo podem vencer a Copa do Mundo para seus respectivos países, sozinhos. Mais importante que o prêmio de melhor filme estrangeiro do Oscar é certamente o Urso de Ouro de "Tropa de Elite" (2007), as indicações de Fernanda Montenegro por "Central do Brasil" (1998) ou Daniel Rezende, por edição, César Charlone por fotografia, Bráulio Mantovani por roteiro e o próprio Meirelles por direção, com "Cidade de Deus", em 2004. Estes outros prêmios e indicações mostram que estamos no caminho certo e que temos ótimos profissionais, capazes de fazer ótimos filmes; e que uma hora chegaremos lá.
A produção cinematográfica argentina é mais uniforme, mais identificável, mais "simpática" aos olhos americanos, mais lúdica, e principalmente, menos arrogante e mais divertida que a nossa. "Nosso cinema varia entre cinema político chato e uma verborragia psicanalítica adolescente. Com exceções", diz Pondé. Até por acharmos que estamos fazendo justiça através do Cinema e que os nossos filmes falam a verdade e são extremamente importantes para o desenvolvimento do país, achamos que somos injustiçados pelo fato das outras pessoas também não verem esses fatores. Cinema deve ser antes de tudo divertido, deve falar ao maior número possível de pessoas (ao menos de vez em quando) e deve ser produto da realidade em que está, sem a pretenção de representá-la fielmente. Neste caso, me parece mil vezes mais interessante - e mais relevante para o país - o que faz, de forma divertida, Jorge Furtado (e "Saneamento Básico - o Filme" seria mais representativo neste ponto) do que faz muitos outros diretores, como Sergio Bianchi, que diz querer falar muitas verdades, mas acaba sendo muito panfletário e pouco adequado à linguagem do cinema (como no fraco e inconstante "Quanto Vale ou é por Quilo?" de 2005).
Temos que produzir mais e produzir melhor. Que venham muitas sequências de "Se eu Fosse Você" e "Tropa de Elite"; que o público passe a gostar de ir ao cinema para ver nossos filmes; que lancemos novos diretores (como o Esmir "Tapa na Pantera" Filho, que acaba de lançar seu primeiro longa no cinema); que a gente consiga contar mais histórias e histórias diferentes; ou filmes diferentes, que pensem também em "como" contar e não só em "que" contar. O prêmio certamente virá; e será decorrência de tudo isso.
Cara, incrivel mm a diferença do nosso cinema com o dos argentinos. Exatamente como vimos ontem. Mas tem um diretor brasileiro q vc esqueceu de comentar, e q tenta seguir uma linha menos lógica e com um estilo q as vezes se parece com os filmes argentinos. O Heitor Dhalia. Vc concorda?
ResponderExcluirClaro. "O cheiro do ralo" é um ótimo exemplo de filme bem feito, com bom roteiro, ótimos atores, sem pretenção e totalmente diferente dessa lógica do cinema brasileiro que o Pondé coloca no artigo, do cinema de favela/crítica social. Muito mais próximo mesmo da então lógica do cine argentino.
ResponderExcluirMas ainda não vi "À deriva", já que estava lá fora quando estreou por aqui. Todo mundo falou mega bem e deve ser mesmo bom. Tenho muita vontade. Vou correndo na locadora mais próxima.
Valeu, Thor.
"O segredo dos Seus Olhos " é muito bom!! Saí bem satisfeita do cinema!! Baita roteiro, boa produção e trilha sonora. Aliás Pondé foi nosso professor na Faap!! Gostava dele!
ResponderExcluirBeijos Ana.