sexta-feira, 12 de março de 2010

Planos e cortes - a confusão entre quem faz o quê.

Só mais uma coisa sobre o Oscar e o prêmio de edição que aconteceu no último final-de-semana. Dessa vez, não sobre os filmes indicados e sim sobre a própria premiação.

Esse ano achei legal o jeito educativo que o Oscar tratou as diferentes categorias. Colocaram uns tantos clips para mostrar os bastidores do cinema, para explicar melhor o que faz cada profissional envolvido e porque cada um deles merece ser premiado afinal de contas.


Para o prêmio de edição colocaram o figura acima, o tal do Tyler Perry (ator, diretor e produtor conhecido por lá - produtor executivo do filme "Preciosa" inclusive) para apresentar o prêmio, fazendo uma brincadeira que tinha a idéia de ilustrar um pouco melhor o quê faz o editor de cinema. Na apresentação ele falava que o editor escolhia e selecionava entre os diferentes planos filmados pelo diretor. E daí começava a brincar com a história dos planos, saindo do seu plano médio para um mais aberto, um de cima, um do público ou um que seria de bastidores, onde os apresentadores Steve Martin e Alec Baldwin viam a premiação pela televisão. O jogo com os diferentes planos foi educativo e interessante. Mas não serviria mais para ilustrar o quê faz o diretor e não o editor?

É mais uma coisa dessas feitas para confundir todo interessado por cinema sem conhecimento específico, que acaba achando que o diretor só dirige os atores ou que se o filme tem imagens bonitas ou paisagens exuberantes é porque tem boa fotografia. O diretor de fotografia trabalha basicamente com luz, criando os ambientes e chegando à imagem pensada pelo diretor, usando para isso lentes, filtros e coisas do tipo. O diretor pensa sobretudo em planos e quebra as diferentes ações descritas no roteiro em uma série de situações com enquadramentos diferentes, para que juntos (em edição) virem um filme como conhecemos. Também funciona logicamente dirigindo os atores e servindo como uma visão central de todo o projeto, dando coordenadas para que os diferentes setores (figurino, arte, maquiagem, etc.) trabalhem em paralelo, ilustrando a sua visão da história. O editor tem essa tarefa ingrata então de juntar um monte de material algo desconexo (até porque dificilmente filmam na mesma sequência descrita no roteiro) e chegar ao formato final. Mais que isso, ele seleciona, corta, junta as diferentes imagens e também manipula elas, criando outras linguagens ou chegando a diferentes resultados visuais. Alguns dizem que um filme é escrito três vezes: no roteiro, na filmagem e na edição.

De qualquer modo, é difícil a tarefa de mostrar o que é edição cortando câmeras em um programa ao vivo. Eu preferiria que mostrassem o que é edição através de uma matéria ou clip, que nem eles fizeram para as outras categorias, e aí sim bem editado. Mais ou menos como o vídeo abaixo usa o 3D e o vídeo para mostrar o que está por trás da produção de 3D e de vídeos. Muito mais legal se você usa os próprios recursos para explicar direito o que faz.



Para ver um pouco mais sobre os cinco filmes indicados ao prêmio, comentados pelo editor Michael Tronick (editor de filmes tão diferentes como "Perfume de Mulher", "S.W.A.T." ou o show dos Jonas Brothers em 3D) recomendo este vídeo do canal do Oscar no Youtube. Ele não fala de nenhum aspecto mais técnico nem faz uma análise muito profunda. Ainda assim é interessante ver sua opinião sobre os indicados e lembrar de algumas boas cenas dos filmes (como a do limpador de parabrisa do Guerra ao Terror). Como eles não me deixam publicar direto no blog, clique aqui para ver o vídeo no Youtube.

3 comentários:

  1. Fiquei com a mesma impressão, mas você no comentário abaixo sobre o prêmio de edição a Guerra ao Terror, se contradisse um pouco, já que aqui atribui ao Diretor a tarefa de escolher planos e cortes, e lá diz que essa é uma tarefa do editor.
    Na verdade, a escolha de momentos, que incluem aí melhores planos e escolhas do corte cabem ao editor, e aí entram diversas variáveis, como os produtores, a confiança do diretor/produtor no editor, etc.

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  2. Muito legal o Blog. Mas a tarefa de decupar o roteiro (escolher os planos) cabe sim ao diretor de fotografia. Isso não se aplica aqui no Brasil na área de vídeo e filmes publicitários. Mas em cinema (narrativa) o diretor no set é basicamente encarregado dos atores e desenrolar da história. Claro que temos excessões, mas os melhores resultados são vistos quando trabalhado dessa forma. Abs

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  3. Valeu pelos comentários, pessoal. Logicamente, cada produção, cada diretor e cada editor trabalham de um jeito diferente e é tão mais legal se cada um consegue ir além de sua função específica. Os editores muitas vezes trabalham ao lado do diretor ao longo de todo o processo e algumas vezes até funcionam como um diretor de segunda unidade.
    Sobre o seu comentário, Henrique, é isso aí mesmo. O que eu quiz falar aqui é que uma coisa é pensar no plano, decupar mesmo o roteiro (tarefa mais do diretor) e a outra é estruturar as sequências, escolhendo para isso os melhores planos filmados (tarefa do editor). Acho que o Oscar acabou deixando essa questão um pouco confusa. Mas valeu pela ressalva.

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