sexta-feira, 30 de abril de 2010

Chroma, Storyboard, Movimentos de câmera e videoclips

Já que falávamos de Chroma Key, eis aqui uns exemplos interessantes de uso em videoclips. Em ótimos exercícios de metalinguagem, essas três bandas usam o vídeo para testar formatos, mostrar o truque do recorte do fundo sendo feito e, sem terem muito trabalho ou gastarem muito dinheiro, chegam a um resultado bacana e extremamente divertido.

No primeiro caso, uma genial aula de movimentos de câmeras e uso do storyboard com a banda inglesa The Futureheads, para a música The Beginning of the Twist.



No segundo, outro uso parecido, dessa vez com a música Over and Over dos Hot Chip (sempre bacanas nos videoclips). A letra da música vai de presente para vocês inclusive (é a versão que me deixam colocar aqui).



E por último, o malucão Herman Düne, com I Wish That I Could See You Soon. A idéia é parecer que o videoclip está inacabado. Mas não é bem mais legal assim? (Há no Youtube uma versão com os letterings e recorte feito. Interessante para ver como contraponto à esta, mas pelo visto a oficial é mesmo essa daí abaixo).



Em tempos de MTV, Avatares e 300s, é mais legal ser criativo e usar as mesmas coisas de outra forma já que a tal da "mágica" do Chroma Key não engana mais ninguém. Não acham?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A mágica do Chroma Key (e uma idéia sobre o "A Ilha do Medo", de Scorsese)

Sempre gostei de ver como muitos planos eram compostos na pós-produção, depois de serem filmados usando o Chroma Key (ou recorte do fundo azul ou verde, famoso também pelos VJs da MTV). O que antes ajudava a colocar o ator numa cena de ação, como em uma explosão, ou criava simplesmente o fundo para uma cena onde víamos um casal passear de carro, por exemplo, agora participa da filmagem de toda e qualquer cena em filmes como Avatar (2009) ou Capitão Sky e o Mundo de Amanhã (2004) -entre outros de ficção científica-; 300 (2006), Speed Racer (2008) ou Sincity (2005) -em que a idéia é se aproximar do tratamento visual da HQ ou do desenho animado-, entre muitos outros filmes.

O site CGSociety, em uma matéria, explica e ilustra de forma muito didática como foi feita a filmagem e a composição dos planos do filme A Troca (2008), de Clint Eastwood. Tendo que recriar a Los Angeles de 1928, muita coisa foi feita em pós-produção, mas segundo o site o desafio foi interessante já que a composição está em função da "emoção" e não da "explosão de dinamite". No filme eles buscaram algo intermediário entre a filmagem em locações e a de estúdio, usando o Chroma Key para dar mais profundidade e ilustrar melhor o caos que era L.A. na época, a então maior metrópole americana. Explicam que isso gerava um dinamismo melhor para as cenas, além de ficar com uma iluminação mais natural e portanto, mais verdadeira. Nos três quadros abaixo, vemos o ponto de partida e o resultado final, no filme. (No site há também um vídeo bem interessante - que não consigo colocar aqui-, que mostra rapidamente cada uma das camadas acopladas depois, na pós-produção, para outra cena).


Outro bom exemplo de possibilidades do uso do Chroma vemos no Reel da produtora americana Stargate, que trabalha muito com séries para TV. Aqui há estes exemplos de como sair de duas pessoas no fundo verde para um plano geral, com helicópteros, navios em chamas ou o que quer que você imagine.



Este final de semana vi o bom A ilha do Medo (2010), o último do Martin Scorsese. Gostei bastante do resultado e achei muito bacana como o diretor consegue misturar vários gêneros no filme: do policial ao thriller de suspense, com alguns elementos do terror, da ação ou do drama pscicológico. Mas em muitos momentos -como numa cena em que vemos Leonardo DiCaprio à beira de um penhasco; ou logo depois, conversando no carro com um dos policiais do centro psiquiátrico - me incomodei com a forma algo artificial em que a composição foi feita. Para os que viram o filme - e passado o desfeixo - pergunto: seria proposital, até porque alguns compararam elementos da construção do filme com o expressionista O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene? (Mais não falo, que é para não estragar nada para os que não viram).

Pros que viram, recomendo também a leitura de uma "sinopse mínima" feita no dia 14/03 por Zé Geraldo Couto, crítico da Folha, em que ele levanta algumas idéias interessantes relacionadas à este filme.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Como fazer - e como não fazer - um trailer de um longa-metragem

Dessa vez, uma aula rápida e prática de como fazer - e de como não fazer - um trailer para um longa-metragem, que nada mais é que uma peça publicitária de um filme, usando dois exemplos atuais. Sendo uma peça publicitária, você deve instigar a vontade do espectador a ir ao cinema, dando algumas idéias do que é feito o filme, qual gênero ele pertence, qual o apelo, atores, efeitos, tramas que ele se apóia. Certo?

É o que faz muito bem Godard para promover seu novo filme, "Socialisme". Em pouco mais de um minuto ele mostra tudo isso de forma rápida, instigante, com bom uso da montagem, bons letterings, boa música, imagens de um frame dialogando com os personagens que aparecem no longa. É na verdade um teaser e não um trailer, já que só introduz o tema do filme, sem se aprofundar muito nele. Mas consegue instigar a curiosidade do espectador com poucos elementos e ótima idéia.



E é o que não faz o filme brasileiro "Segurança Nacional", dirigido por Roberto Carminati, também inédito. No trailer, de dois minutos, ele mostra tanta coisa que quase que você sente que já viu o filme todo. Mostra os atores, as tramas e sub-tramas, algumas tantas cenas de ação, os principais conflitos... Mais ou menos você já sabe como começa, como se desenvolve e como termina (já que mostra uma gigantesca explosão na selva, provavelmente aquele plot dos 1h45min que você acha que tudo vai acabar mal mas não acaba), mostra o mocinho (Thiago Lacerda), a mocinha (Viviane Victoretti) e até o esperado beijo (grande momento dos filmes de 007 pelo menos). A idéia deveria ser a de sugerir a história e não contar ela toda.



Sou da opinião que se tem uma coisa que o nosso cinema ainda não aprendeu a fazer são os trailers. Em geral ou repete a fórmula acima, contando toda a história do filme, mostrando todos os efeitos e detalhes importantes, querendo se vender como uma super-produção, ou coloca cenas aleatórias intercaladas com todos os festivais que participou e os prêmios que acumulou antes da estréia nacional. Trailer é antes de tudo uma boa sacada; que deve sugerir as principais idéias da história, sem contá-las totalmente. Assim como um curta é um curta e um longa é um longa, um trailer é um trailer. Cada uma dessas coisas tem suas características e linguagens específicas.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A montagem de "Jajá - Arara Rara"

No final do ano passado tive o prazer de montar o piloto da série "Jajá - Arara Rara", para o pessoal do Mol Toons. O projeto fazia parte do "Anima TV" da TV Cultura, que tem por objetivo (segundo o site do programa):

"A ideia é estimular o desenvolvimento da indústria brasileira de animação a partir da sistematização de ações que visam à geração de projetos em diversos pontos do País, realização de ações regionais de capacitação, articulação de um circuito nacional, dinamização da produção entre estúdios, além da inserção da animação brasileira no exterior."

Ao todo, 17 projetos foram escolhidos e co-patrocinados pela emissora, que os exibiu em sua programação nos meses de janeiro e fevereiro. Todo o processo já acabou e já foram divulgados os vencedores, mas ainda haverá uma ou outra exibição das animações. "Jajá - Arara rara" (essa aí abaixo) será exibida novamente no dia 8 de maio às 13h45 e no dia 20 de junho às 12h15.


O legal de montar essa animação foi que aqui não tínhamos uma quantidade gigantesca de material para cada cena ou take (até porque o processo de animação em si é longo e trabalhoso e, por isso, extremamente calculado no início). A minha função foi mais a de dar ritmo e tempo para as piadas e ajudar em toda a estrutura, cortando uma ou outra coisa para chegar no tempo estipulado. Acontece que durante o processo de animação, alguns takes acabaram ficando maiores do que o que foi previsto durante o animatic (uma versão em vídeo do storyboard, já com marcações da câmera, que ajuda a visualizar o futuro desenho).

Este projeto mostrou que há muitas possibilidades de animação diferentes e que temos no Brasil uma mão-de-obra muito boa, além de excelentes idéias. O que falta é mesmo incentivo, apoio, estrutura, formatos de comercialização e novos canais de exibição. "Jajá - Arara Rara" não foi um dos dois projetos vencedores (a disputa foi bastante difícil) mas com certeza ainda estará um dia em uma televisão perto de você (eu, na real, torço muito por isso).

Fiquem abaixo com uma pequena amostra do que é a série. Para ver o making of de todo o Anima TV, com entrevistas com os responsáveis de cada um dos projeto (eu apareço falando um pouquinho sobre isso aí que eu falei acima, da montagem deste episódio), cliquem aqui.

E aqui, Chico Zullo, diretor do piloto, fala um pouco (em inglês) sobre o seu processo de criação usando o software "Toon Boom", de animação. Para quem quiser ter um pouco mais de informações técnicas a respeito.

Jajá Arara Rara from MOL Toons on Vimeo.


Em tempo: este blog já registrou mais de mil acessos desde que comecei a ter os dados disso, exatamente dois meses atrás. Obrigado pela preferência!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

The Johnny Cash Project (videoclip colaborativo)

Um formato interessante para chegar a um videoclip diferente: jogar a idéia na internet e deixar que as pessoas, cada uma colaborando do seu jeito, crie o que será o visual final do vídeo. É isso que faz o site "The Johnny Cash Project", para a música "Ain't no grave", que sairá no disco póstumo do cantor.


Em cima de uma base pré-editada do videoclip, com imagens em preto-e-branco, cada pessoa escolhe um frame (entre três sugestões dadas pelo site) e o refaz como bem quiser, usando para isso algumas ferramentas bem simples de softwares gráficos (seria mais próximo de um paintbrush que de um photoshop na verdade). Você só consegue mudar o tipo, o tamanho e a opacidade do brush, assim como a cor, em uma escala de cinza. Mas logicamente, há quem faça miséria com isso, como nos casos abaixo.


Como teste, este que vos escreve fez sua singela colaboração. E até que não ficou tão ruim; pelo menos não na visão deles, que aprovaram a minha "arte" (frame número 950). Clicando sobre qualquer um dos quadros, você pode ver quem fez e como fez, já que ele reproduz passo-a-passo - ou pincelada por pincelada - todo o processo. Em alguns casos, há mais de uma versão desenhada para o mesmo frame, o que gera uma certa competição entre os participantes.

Aí embaixo coloco o frame original que me deram (onde vocês podem ver também as ferramentas que eles disponibilizam para que você desenhe). E logo depois o meu desenho. (Não reparem não, desenhar com o mouse também não me ajudou muito).


Esse projeto usou no final uma idéia bastante inovadora em montagem; ao invés de fazer um videoclipe em animação, por que não deixar que as pessoas contribuam, interajam, participem? Usar na verdade essa gigantesca mão-de-obra que existe espalhada por aí, e que adoraria contibuir de alguma forma, para chegar a um resultado diferente?

Veja lá no site do projeto o resultado final do vídeo (ou como está até o momento, já que muda constantemente).

E se você também colaborou, poste aí embaixo nos comentários qual foi o seu frame. Seria legal saber de mais pessoas que também contribuiram. Mãos à obra!

(Dica do meu irmão Rafael Kenski, fã de Johnny Cash e expert em crowdsourcings)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os efeitos visuais de "O Segredo Dos Seus Olhos"

No post anterior, usava o filme "O Segredo Dos Seus Olhos", do diretor Juan José Campanella, vencedor do Oscar de filme estrangeiro neste ano, para comparar as cinematografias de Brasil e Argentina. Mas pouco falei do filme em questão.


A verdade é que o filme vale pelo simples fato de ser um ótimo filme e por isso, fosse ele da Argentina, do Brunei, ou do Quirguistão, mereceria de qualquer forma o prêmio da Academia. O filme tem um ótimo roteiro, diálogos muito inteligentes, atores convincentes (e mesmo tendo o Darín em todos os filmes argentinos, acho que ele sempre consegue me convencer; neste até mais que em outros), ótima fotografia, planos interessantes e, é claro, um plano-sequência de cair o queixo.

Logo nos cinco primeiros minutos do filme, mostrando diferentes possibilidades de histórias a serem contadas, o diretor joga com diferentes texturas para mostrar uma história de amor (que mais parece comercial de margarina), uma despedida em uma estação de trem (com muito movimento, uma composição de planos que parece simular um sonho) ou uma cena de estupro (câmera na mão e muito movimento). Com isso, entra na história, que vai prendendo o espectador aos poucos, até o clímax final. Filme inteligente, com bom ritmo, despretencioso, que garante bons momentos cômicos e bons momentos de suspense e perseguição, sem nunca errar a mão. Vale lembrar que Juan José Campanella não só assina a direção como também o roteiro, a produção executiva e a montagem.

E como todo bom montador gosta de fazer, aqui temos um excelente plano-sequência, que quase chamou mais atenção que o próprio filme. Com duração de mais de 5 minutos, saímos de um plano aéreo de um estádio, vamos até o personagem principal e o acompanhamos em uma frenética perseguição, com muitas mudanças de ambiente. Abaixo coloco alguns vídeos que mostram como foram feitos os principais efeitos durante a pós-produção, principalmente para fazer este plano. Um efeito elaborado, usado anteriormente no filme "O Senhor dos Anéis" e usado pela primeira vez na Argentina, segundo eles.

E vale lembrar, para completar o post anterior, que esta foi a segunda indicação de Campanella ao prêmio de melhor filme estrangeiro, já que ele já havia disputado por "O Filho da Noiva", de 2001. E foi o segundo prêmio de filme estrangeiro do Oscar conquistado pela Argentina. O primeiro foi o tal "La Historia Oficial", de 1985, dirigido por Luis Puenzo.

Veja abaixo, os interessantes making-offs do filme, nessa sequência :(há muitos mais no Youtube. Aqui coloco os que achei mais interessantes ou relevantes)
1. Programa argentino (sem legendas) que mostra parte da cena, entrevista o diretor e outros envolvidos e ilustra parte dos efeitos usado no plano-sequência.
2. Rodrigo Tomasso, supervisor de efeitos, comenta sobre os efeitos usados no plano-sequência.
3. Um vídeo mais técnico, da produtora de efeitos, que mostra os diferentes layers 3D usados na primeira parte do plano-sequência. Muito interessante e ilustra o efeito magistralmente.
4. Aqui, eles mostram como foi feito outro ponto difícil do plano sequência, que é a queda do homem que é perseguido, quando a câmera sai de um andar e passa a acompanhar o homem no outro.
5. Por último, outro vídeo da produtora de efeitos especiais onde vemos a composição em 3D do plano do trem.
Aproveitem!









segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cinema argentino, Beckham, Pondé e Oscar.

O ex-professor Luiz Felipe Pondé fez uma comparação brilhante entre as cinematografias brasileira e argentina em sua coluna da Folha do dia 29 de março deste ano (clique aqui para ler a mesma matéria, publicada na íntegra em um blog). Em seu "desabafo", começa falando que foi "mais do que justo" o Oscar recente para "O Segredo dos Seus Olhos" e que "o cinema de 'los hermanos' é melhor que o nosso". Continua: "Resumidamente, eu diria que nosso cinema é, em grande parte, imaturo, sem tradição estética, obcecado por certos temas monótonos, quase amador em termos de conteúdo, e se vê como instrumento de transformação social."


No artigo, critica essa visão política que todo diretor estreante diz ter, como se cinema fosse instrumento de transformação social. No artigo, desmonta o culto ao Glauber Rocha, que tal como Caetano Veloso, parece -pela visão da crítica e também do público- que criou tudo que existe até hoje e que o futuro dependerá sempre desses caras. A verdade é que brasileiro mal vai ao cinema para ver seus próprios filmes, seja para ver mega-produções, novelas extendidas, histórias intelectuais ou o que quer que seja. Não temos indústria, não temos constância, mal temos público. E ainda assim, nos sentimos injustiçados por nunca ter conseguido um prêmio do Oscar.

Outro professor, Fernando de Felipe, de Barcelona, comentava sobre o Oscar que os irmãos Cohen ganharam por "Onde os Fracos Não Têm Vez / No Country for Old Men", em 2008, falando que o Oscar vem exatamente quando os envolvidos não precisam mais dele. Ou seja, em geral ele não premia o filme; premia mais a trajetória do diretor, ator, produtores e demais envolvidos, quando estes já demonstraram em muitas ocasiões que são dignos do cobiçado prêmio (e se falamos de Oscar e irmãos Cohen, o Oscar que Jeff Bridges levou este ano - e não por "O Grande Lebowski"- confirma essa teoria). Os Cohens já alcançaram um status que conseguem fazer o que bem entendem, com quem bem entendem, do jeito que acham mais adequado. O prêmio não faz com que eles consigam mais e melhores atores ou contratos, ou consigam produzir melhores filmes ou com mais orçamento. Isso poderia servir quando eles lançaram o ainda "independente" "Fargo" de 1997 (ganhou só o Oscar de roteiro original). O prêmio, hoje em dia, só confirma o que todos já sabem.

Dito isso, voltemos ao cinema brasileiro: como querer ganhar um prêmio de melhor filme estrangeiro e ter a nossa cinematografia "enfim" premiada, se não podemos dizer nem que temos a tal "cinematografia"? Produzimos um Walter Salles, um Fernando Meirelles, um José Padilha e achamos uma vez mais que cada um deles é "o" cara e que agora sim merecemos o prêmio. Mais ou menos como pensar que o Beckham ou o Cristiano Ronaldo podem vencer a Copa do Mundo para seus respectivos países, sozinhos. Mais importante que o prêmio de melhor filme estrangeiro do Oscar é certamente o Urso de Ouro de "Tropa de Elite" (2007), as indicações de Fernanda Montenegro por "Central do Brasil" (1998) ou Daniel Rezende, por edição, César Charlone por fotografia, Bráulio Mantovani por roteiro e o próprio Meirelles por direção, com "Cidade de Deus", em 2004. Estes outros prêmios e indicações mostram que estamos no caminho certo e que temos ótimos profissionais, capazes de fazer ótimos filmes; e que uma hora chegaremos lá.

José Padilha e seu "urso".

A produção cinematográfica argentina é mais uniforme, mais identificável, mais "simpática" aos olhos americanos, mais lúdica, e principalmente, menos arrogante e mais divertida que a nossa. "Nosso cinema varia entre cinema político chato e uma verborragia psicanalítica adolescente. Com exceções", diz Pondé. Até por acharmos que estamos fazendo justiça através do Cinema e que os nossos filmes falam a verdade e são extremamente importantes para o desenvolvimento do país, achamos que somos injustiçados pelo fato das outras pessoas também não verem esses fatores. Cinema deve ser antes de tudo divertido, deve falar ao maior número possível de pessoas (ao menos de vez em quando) e deve ser produto da realidade em que está, sem a pretenção de representá-la fielmente. Neste caso, me parece mil vezes mais interessante - e mais relevante para o país - o que faz, de forma divertida, Jorge Furtado (e "Saneamento Básico - o Filme" seria mais representativo neste ponto) do que faz muitos outros diretores, como Sergio Bianchi, que diz querer falar muitas verdades, mas acaba sendo muito panfletário e pouco adequado à linguagem do cinema (como no fraco e inconstante "Quanto Vale ou é por Quilo?" de 2005).

Temos que produzir mais e produzir melhor. Que venham muitas sequências de "Se eu Fosse Você" e "Tropa de Elite"; que o público passe a gostar de ir ao cinema para ver nossos filmes; que lancemos novos diretores (como o Esmir "Tapa na Pantera" Filho, que acaba de lançar seu primeiro longa no cinema); que a gente consiga contar mais histórias e histórias diferentes; ou filmes diferentes, que pensem também em "como" contar e não só em "que" contar. O prêmio certamente virá; e será decorrência de tudo isso.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A pós-produção do filme do Chico Xavier

Como parte do lançamento do filme de Chico Xavier, dirigido por Daniel Filho, que estreou semana passada nos cinemas, a produção do filme disponibilizou em canais como o Youtube um extenso material, registrando os bastidores do longa-metragem. Um material bem feito, bem editado e que serve para ilustrar o trabalho das pessoas envolvidas na produção, gerando curiosidade sobre a história que está sendo narrada.

Na segunda parte do making of (três no total), eles contam um pouco sobre o processo de pós-produção, colocando mais atenção aos efeitos especiais, composições e criações de elementos em 3D do que à montagem propriamente dita. Tentam reforçar assim a imagem de "mega-produção" associada ao filme, mostrando a complexidade e o trabalho que está por trás do que não se vê. Mas é interessante conhecer alguns dos efeitos empregados, bem ilustrados neste making of, comentados pelo supervisor técnico de pós da O2, Paulo Barcellos Jr. Em suas palavras, "metade do filme é pós-produção".

Vejam o vídeo abaixo (para os impacientes, eles começam a comentar sobre pós-produção aos 3'24")



Também me pareceu interessante - e bem feito - o trailer do filme. Sem grandes inovações e efeitos, o trailer vende bem a história, mostra os principais personagens,e entra no universo do filme com bom ritmo, imagens bonitas e boa edição dos diálogos. Sempre acho que os trailers nacionais ou contam toda a história, em uma edição longa e com muitos diálogos ou acaba pegando só as cenas polêmicas (e aqui a cena de nudez padrão, herança da pornochanchada) em um combinado que não faz muito sentido e tenta chamar atenção mais pelo sensacionalismo do que pela história em si. O trailer de Chico Xavier não tem nenhuma grande inovação mas é eficiente e acho que funciona bem para promover o filme.



Legal a iniciativa da produção do filme em documentar todo o processo e disponibilizar isso na Internet ao mesmo tempo em que o filme estréia nas salas de cinema, não esperando que este seja mais um extra para o lançamento em DVD. O público - e o cinema nacional como um todo - ganha muito com iniciativas como esta.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dan and Dan (esquetes de edição)

Dan & Dan é provavelmente o Marcelo Adnet gringo. Usando muitas músicas, textos geniais e bom timing, o(s) comediante(s) consegue(m) fazer vídeos geniais, explorando o melhor do formato Youtube. E o melhor: faz(em) isso com um ótimo uso da edição.


Gravando duas vezes a si mesmo falando textos diferentes (no mesmo quadro) e depois juntando em pós-produção, ele consegue explorar linguagens bem interessantes, criar momentos realmente cômicos e inovar, usando muitos poucos elementos. A graça não está em ver ele repetido e sim no texto e nas diferentes situações que ele vai criando nos diferentes vídeos. O tempo do diálogo é perfeito e a interação entre os dois personagens é melhor que muito diálogo de novela ou de filmes que existem por aí. Qualquer pessoa poderia fazer o que ele faz; o truque é fácil e manjado. Mas dificilmente a pessoa teria esse timing, de conseguir criar um diálogo realmente eficiente falando duas vezes para a câmera.

Abaixo coloco uns tantos exemplos de diferentes situações criadas por ele(s). No primeiro vemos quatro Dans cantando uma música (no Youtube há outro bem parecido, mas para uma música dos Ben Folds Five). No segundo outra música, mas agora explorando muitas piadinhas feitas em edição. O terceiro é uma música (talvez a mais famosa) em que ele satiriza (brilhantemente) o jornal britânico Daily Mail. No quarto vemos uma sátira com o seu próprio formato. E por último, o "experimental" e curiosíssimo "Sketch palíndromo", que dá para ver de frente para trás ou de trás para frente que fica igual (segundo ele). Para mais vídeos, acessem o canal do Youtube ou o blog dele(s). Dá para perder o dia vendo isso aí. Aproveitem!










terça-feira, 6 de abril de 2010

Stop Motion com recortes de revistas (ou: fazendo animação com fotos que outros já tiraram)

Genial o vídeo do tal Tilles Singer intitulado "Skateboardanimation".

Recortando fotos de revistas especializadas ou se apropriando de imagens que encontrava na net ele conseguiu fazer um stop motion bastante criativo, situando as manobras dos skatistas em lugares inusitados. O que antes era uma pista de rua agora vira uma cartolina, uma agenda ou uma caixa de clips, por exemplo.


No fim, ele mostra que para um bom stop motion você nem precisa ter um vídeo ou fotos que você mesmo produza como base. No caso do skate, muitas publicações e foruns da internet já ilustram as diferentes manobras em sequências grandes de fotos (em geral bem tiradas e com boa qualidade). Cabe a quem quiser usar esse material para transformar em um vídeo bacana. Aqui, o legal não é a manobra de skate em stop-motion e sim a composição que ele fez dessas fotos com os novos ambientes.

Assistam ao vídeo abaixo:

Skateboardanimation from Tilles Singer on Vimeo.



Como dica de leitura que se relaciona bastante com este tema, indico o livro "Pós-produção" do francês Nicolas Bourriaud. Em seu ensaio ele nos mostra muitos exemplos interessantes de pessoas que produzem obras artísticas se apropriando de coisas pré-produzidas. Fala que a grande pergunta hoje em dia não é "O que vou fazer?" e sim "O que vou fazer com?". Na lógica de hoje quase que é mais legal fazer coisas com o material que já existe por aí do que produzir algo novo, do zero. Material de base e referências legais é o que não falta.

Info bibliográfica (do que eu li):
BOURRIAUD, Nicolas. Postproducción. Buenos Aires: Adriana Hidalgo editora, 2007